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sexta-feira, 23 de março de 2012

A SAÍDA DOS QUE MANDAVAM


O outono do patriarca


Da “FOLHA”
Por JUCA KFOURI
“Nem a literatura fantástica da América Latina daria conta de produzir enredo tão inglório”
GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ, em sua imbatível genialidade criativa, não imaginaria que a fantástica literatura latino-americana fosse capaz de engendrar uma história de poder tão absoluto com final tão melancólico como o do clã Teixeira Havelange.
O patriarca João, que o ex-genro Ricardo sempre chamou de Giovani, talvez numa alusão inconsciente (ou não, ou não…), depois de renunciar ao Comitê Olímpico Internacional para se livrar de ser investigado aos 95 anos de idade, cai gravemente enfermo.
E Teixeira, aos 64, renuncia, renuncia e renuncia. À CBF, ao COL e à Fifa, também para se livrar.
Restou a fortuna, que não é pouca, mas foi-se o irrecuperável poder.
Foram quase 50 anos dando as cartas no futebol brasileiro direta ou indiretamente, por meio de prepostos, como Heleno Nunes.
E a derrocada do patriarca é imediatamente seguida pela fuga de sua melhor, e pior, cria, criador e criatura em busca de salvar os dedos diante da perda dos anéis, os olímpicos e os nem tanto.
Há, é verdade, a sobrevivência ainda de uma herdeira, mas esta, segundo todos os sinais, apenas espera pelo melhor momento para sair de cena como entrou, silenciosa e obscuramente, sem mérito e sem glória.
Ao quase meio século sob as luzes tropicais da corte da Cidade Maravilhosa ou da proteção acintosa dos Alpes suíços, contrapõem-se agora os tais cem anos de solidão.
A história é pródiga em revelar que o fim do poder absoluto é absolutamente também absoluto, mas os humanos sempre acham que escaparão.
O fim das tiranias, invariavelmente mantidas sem nenhuma nobreza, cobra um preço desproporcionalmente maior que o esforço para mantê-las.
Porque quando começa a chover em Macondo não há força da natureza que interrompa a tempestade que arrasa o chão outrora pisado pelos que nunca foram nem queridos nem respeitados por sua gente, mesmo que impotente e silenciosa, mas que, ao fim e ao cabo, festeja o infortúnio dos que a infelicitaram por tempos que pareceram sem fim. Quem sabe um dia o ser humano aprenda.

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