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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

TORCIDAS ORGANIZADAS


Violência no futebol: um monstro de várias cabeças

Agressividade entre torcidas se torna um problema que ganha força por conta da impunidade e se mostra em diversas formas, como no caso de Lucas Lyra



O tiro que atingiu a nuca do torcedor alvirrubro Lucas de Freitas Lyra, de 19 anos, no último dia 16, em frente à sede do Náutico, não foi dado só por um segurança chamado José Carlos Freitas Barreto, já detido. Além dele, outros culpados puxaram o gatilho de um revólver que vem sendo carregado em muitos anos de impunidade, passividade, complacência, cumplicidade e incompetência dos poderes públicos, clubes e Federação Pernambucana no combate à violência praticada por membros das principais torcidas organizadas do Estado: Jovem do Sport, Inferno Coral e Fanáutico. Fatores que criam um círculo vicioso de absurdos. Refém do medo, resta à cidade se adaptar.
O campeonato que muda a tabela para não haver duas partidas no mesmo dia no Recife. O comércio que fecha mais cedo. Os vizinhos dos estádios que deixam seus lares ou evitam sair de casa em dia de jogos. A empresa que contrata seguranças não legalizados e sem porte de arma para evitar a depredação dos seus ônibus. Paliativos que alimentam um monstro, disfarçado de futebol. Até quando?
Criado em Pernambuco 2006, cinco anos depois do primeiro caso de morte ligada ao futebol no Estado (usando uma camisa da Torcida Jovem, Daniel Ramos da Silva levou dois tiros no Túnel Chico Science, próximo à Ilha do Retiro), o Juizado Especial Cível e Criminal do Torcedor (Jetep) surgiu como uma vitória na luta contra a impunidade. No entanto, até o final de 2012 foram lavrados 1.145 processos (desses, 952 criminais). Número considerado baixo até mesmo pelo promotor do próprio Jetep, José Bispo. Para efeito de comparação, apenas no ano passado, 1.327 foram depredados em dias de jogos no Recife.
“Esse número poderia ser bem maior se tivéssemos a competência de julgar casos além do perímetro de cinco quilômetros que é a nossa área de atuação”, afirmou. “Esse foi um caso grave e que chamou a atenção por ter ocorrido na frente de um estádio. Uma situação que despertou na sociedade o sentimento de que as coisas precisam mudar. Antes faltava maior integração entre os poderes constituídos e os órgãos de segurança. Agora a tendência é que as coisas mudem.”
Autor da única ação civil pública que tenta a extinção das três principais organizadas do Estado, o promotor do Ministério Público Ricardo Coelho tem outra visão. Para ele “falta de vontade política” para acabar com as uniformizadas violentas, proibidas de entrarem nos estádios preventivamente nos próximos 60 dias pelo Jetep.
“No ano passado, já havia recomendado a proibição das três principais organizadas. Os presidentes de Náutico, Sport e Santa Cruz, assim como o da Federação, me mandaram uma resposta por escrito se mostrando contra. Já a Polícia Militar se omitiu. Foi preciso mais seis meses de confrontos e um jovem baleado na porta dos Aflitos para que fosse tomada essa decisão”, reclamou. “Os presidentes do três clubes apoiam as torcidas e as usam para fazer proselitismo eleitoral, seja dentro dos próprios clubes ou em eleições para vereador, por exemplo”, acusou.
Procurado pela reportagem do JC, um ex-presidente de um dos três grandes clubes do Recife confirmou que há ligação entre a direção dos clubes e das organizadas. “O clube ajuda a torcida em viagens, levando material, pagando passagens e dando ingressos”, afirmou o ex-cartola, que não vê contribuição dessa parceria com a violência das organizadas. “A convivência não é com os marginais. Qual o interesse que o clube tem com o aumento da violência?”, questionou.
Mais uma frase, no eterno jogo de empurra. Onde todos se dizem inocentes.

JC Online

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