EMPRESÁRIO ADIR ASSAD ADMITE TER PAGO R$ 1,7 BILHÃO EM PROPINA NAS OBRAS DE ANGRA 3
ASSAD ADMITIU QUE COMETEU CRIMES E AGRADECEU A OPORTUNIDADE PARA ESCLARECER OS FATOS FOTO: ARQUIVO ESTADÃO
LOBISTA DIZ TER PAGO ISSO EM PROPINA NA ELETRONUCLEAR E ANGRA 3
Em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, Adir explicou que está preso desde 2015, por uma condenação do juiz Sérgio Moro relativa à Operação Saqueador, e que esta foi a primeira vez que resolveu falar em juízo, pois decidiu ficar calado nos dois depoimentos prestados a Moro em Curitiba.
Assad admitiu que cometeu crimes e agradeceu a oportunidade para esclarecer os fatos. Explicou que era um empresário de sucesso na área de entretenimento, sendo responsável por trazer ao Brasil shows de grandes estrelas internacionais, como Shakira, Beyoncé e U2, mas que resolveu mudar para o ramo da engenharia, sua formação profissional, para “ganhar mais dinheiro.”
“Já tínhamos um relacionamento muito bom com as empreiteiras e sabíamos como funcionava esse setor. Já chegávamos assim: tem um negócio que vai custar zero. A gente coloca uma ou duas máquinas para dar evidência de serviço, mas não houve de fato serviço, só manipulação de tudo. Fica evidente pelo valor da nota fiscal, a máquina tinha que trabalhar ininterrupta dois anos a R$100 a hora para dar esse valor. E a gente fazia quinzenal ou mensal. Eu tinha grande relacionamento com os bancos e tinha facilidade para pegar dinheiro em espécie no caixa”, explicou.
Assad explicou que era cobrado de 15% a 20% sobre o valor de cada negociação, na qual suas empresas recebiam pelo serviço não prestado, ou seja, vendendo notas fiscais, e devolviam a quantia em espécie para as construtoras, abatida a participação. “Por exemplo, eles pagavam R$ 100 mil e recebiam de volta R$ 85 mil.”
O empresário afirmou que o negócio da venda de notas começou em 2008, ao ser procurado pela Delta com essa proposta, e durou até 2011, quando foi deflagara a Operação Saqueador, na qual foi preso o contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira. Segundo Assad, Cachoeira seria um “concorrente” dos negócios com a Delta e seus contatos na empreiteira Andrade Gutierrez teriam admitido que a operação para “abafar” a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investigava o caso teria custado R$ 30 milhões.
Também prestaram depoimento hoje como investigados da Operação Irmandade os sócios de Adir Assad: seu irmão Samir Assad e Marcelo Abbud, um amigo de infância. Os três admitiram a participação nos crimes que constam na acusação e negaram ter tido qualquer contato ou contrato direto com a Eletronuclear ou dirigente da estatal que, de acordo com os três, só conheceram em Bangu, onde estão ou estiveram presos. Abbud foi preso no dia 30 de junho de 2016 e solto no dia 7 de julho do mesmo ano. Segundo eles, toda a negociação e entrega de dinheiro era feita com a Andrade Gutierrez, que repassaria para os diretores da empresa de energia e agentes públicos.
Nenhum deles soube citar nomes de diretores ou políticos que teriam recebido dinheiro do esquema, mas Adir explicou que os contratos fictícios começaram nas obras da Linha 4 do metrô de São Paulo, para repasse de propina a políticos do governo do estado, do PSDB, e que os repasses para a Eletronuclear seriam a maior parte para o PMDB e uma parte pequena para o PT.
Adir Assad e Marcelo Abbud voltam a depor na tarde de hoje ao juiz Marcelo Bretas, para falar da relação de suas empresas com a Delta Engenharia. Também está previsto o depoimento de outras nove pessoas, entre elas Carlinhos Cachoeira.
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