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sábado, 12 de agosto de 2017

PROPINODUTO DA CAIXA

Porões da Caixa: políticos e operações milionárias

O ex-ministro Geddel Vieira Lima quando saía da prisão, Ele foi do Conselho da Caixa Econômica e podia vetar empréstimos - Foto Dida Sampaio - Estadão Conteúdo


Exclusivo: Planilha da Caixa liga políticos a empréstimos para empresas

Tabela foi apreendida no computador de um subordinado do peemedebista Geddel Vieira Lima e lista políticos do PMDB, PT e PSC como “padrinhos” de operações milionárias


Em julho de 2016, integrantes da Corregedoria da Caixa Econômica Federal em Brasília apreenderam o notebook de um funcionário da Vice-Presidência de Pessoa Jurídica. O notebook trazia registros datados de 2012. Entre 2011 e 2013, o vice-presidente de Pessoa Jurídica era Geddel Vieira Lima (PMDB), que recentemente ocupou um ministério no gabinete de Michel Temer. Os investigadores da Corregedoria localizaram nos arquivos uma planilha que ganhou a chancela “sigilosa”.
O documento tinha a lista das empresas que solicitavam empréstimos ao banco público, com os valores das operações e o status do negócio. Até aí, um registro prosaico de atividades. Não fosse por uma outra coluna, identificada como “contatos externos”. Nela, políticos de PMDB, PT e PSC estavam relacionados às operações, que deveriam ser eminentemente técnicas.
Àquela altura, a Lava Jato ainda não desbaratara o esquema de achaque a empresas interessadas em recursos do banco. Os investigadores da Lava Jato suspeitam que o esquema fosse tocado por Geddel, pelo ex-deputado Eduardo Cunha e por seu operador Lúcio Funaro – os dois últimos, padrinhos de Fábio Cleto, que ocupava a Vice-Presidência de Loterias na Caixa no mesmo período. O documento despertou a atenção. Imediatamente, auditores do banco anotaram em um relatório sigiloso, obtido por ÉPOCA: “Conforme se denota do documento ora anexado, o empregado possuía em seus arquivos uma lista com as seguintes informações: Cliente/Contato Externo/Operação/Status. Na referida planilha, no campo contato externo figuram políticos influentes”.
E qualificaram o risco: “Dos políticos citados na planilha, há um deputado preso por fraudes licitatórias, e outro formalmente indiciado por envolvimento na Operação Lava Jato”.
O deputado investigado na Lava Jato é Marco Maia, do PT gaúcho, alvo de um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF).
O documento obtido por ÉPOCA mostra que o raio de atuação de Geddel não estava restrito a sua aliança com Eduardo Cunha e com Lúcio Funaro. Presidente do PSC e presença frequente no Congresso, o pastor Everaldo, segundo sugere o documento, também pode ter buscado ajuda de Geddel na Caixa. No documento interno do banco, o nome de Everaldo aparece associado às empresas “Protex/Dinâmica” e a um financiamento de R$ 3 milhões, dos quais R$ 2,75 milhões constam como já contratados. O pastor afirma que procurou Geddel em 2012 na sede da Caixa. “Eu pedi um favor, apresentei a empresa e pedi para ele [Geddel] fazer as coisas normalmente”, diz, sem dar mais detalhes do encontro. Everaldo pediu o “favor” porque um dos sócios da Dinâmica, Edson da Silva Torres, é seu amigo e sócio em outra empresa.
De acordo com os investigadores, o esquema do PMDB na Caixa, principalmente no FI-FGTS, não estava escorado no poder de aprovar empréstimos, mas de usar um intermediário – um “longa manus” –, o ex-vice-presidente de Loterias Fábio Cleto, que possuía assento no Conselho do Fundo, para dificultar a concessão de empréstimos, mesmo os lastreados tecnicamente. No jargão, vendia dificuldade para colher facilidades. De modo análogo ao que ocorria com Cleto no FI-FGTS, Geddel tinha assento no Conselho Diretor do banco, responsável pela aprovação de grandes empréstimos, podendo votar ou “vetar” as operações pleiteadas.
Ex-assessor especial de Temer e ex-deputado federal, Sandro Mabel (PMDB-GO) também consta da planilha, associado a uma operação da empreiteira paulista Termaq. A negociação do empréstimo de R$ 25 milhões, contudo, aparece com o “conceito de risco F” e acabou não saindo do papel.
Por meio de sua assessoria, a Caixa informou que o processo interno da Corregedoria “foi levado ao conhecimento da Polícia Federal e do Ministério Público Federal”, mas que, como corre sob sigilo, não pode se manifestar sobre ele.
Em relação aos empréstimos, o banco afirmou que “até o momento não foram identificadas irregularidades nas concessões”. Como o escândalo do FI-FGTS foi revelado pela PF e não pela área de compliance da Caixa, a planilha obtida pelos auditores é considerada um grande ponto de partida.
O ex-ministro Geddel Vieira Lima afirmou por meio de nota que só vai se manifestar quando tiver acesso ao documento e disse que jamais atuou para favorecer ou retardar operações financeiras para empresas no banco. Giovanni Alves, o usuário do computador apreendido pelos investigadores da Corregedoria, não quis comentar o assunto.

ÉPOCA – Mateus Coutinho

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