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domingo, 24 de setembro de 2017

FUTEBOL SEM GUERRA

Futebol: um alento em meio à guerra na Síria

                              Seleção síria resiste às mais terríveis intempéries                                                  Foto: Atta Kenare/AFP

Mesmo jogando fora do país, a seleção da Síria sobrevive e mantém chances de classificação para a Copa 2018

Desde o início de 2011 que a Síria protagoniza o noticiário internacional. Foi nesse período que eclodiu uma guerra civil responsável por deixar um rastro de quase meio milhão de mortos. Além de milhões de feridos e desalojados. Contudo, a nação asiática não vive apenas drama e derramamento de sangue. Em meio a tantas turbulências, o futebol sobrevive como um oásis de alegria. Capaz de unificar uma nação despedaçada e enfraquecida por êxodo em massa, turbulência política e devastadores conflitos internos. Na Síria, o futebol respira. E resiste às mais terríveis intempéries. 

A prova maior disso aconteceu no começo deste mês. Em jogo disputado em Teerã, a seleção da Síria encarou o Irã e conseguiu um feito inesquecível. Diante dos donos da casa, marcou um emocionante gol no último minuto, empatando o jogo e reacendendo um sonho que parecia impossível. Com o empate, os sírios vão para a repescagem e seguem com chances de disputar a Copa do Mundo da Rússia, em 2018. As cenas memoráveis não ficaram restritas às quatro linhas. A população do país ocupou as ruas de cidades em ruínas, onde, extasiada, comemorou o feito heroico.

Para se ter uma dimensão da façanha alcançada pelos sírios, é preciso mergulhar fundo nos problemas vividos pelo país. Apesar de não ter nenhuma potência como adversária nas Eliminatórias, a seleção da Síria jamais disputou uma Copa do Mundo. Só isso já seria suficiente para a festa. O que torna o acontecimento ainda mais histórico são as circunstâncias. Desde 2011 que o selecionado não atua em seu território. Suas cidades foram consideradas inseguras para sediar eventos internacionais. Ou seja, é um time nômade, que já mandou jogos em Jordânia, Omã e Irã. Hoje, a Malásia é a "casa" da Síria.

As dificuldades vão além meramente do mando de campo. Alguns jogadores se negam a vestir a camisa da seleção por considerar que possíveis conquistas seriam usadas como propaganda política do ditador Bashar al-Assad. O atacante Firas al-Khatib chegou a boicotar as convocações por cinco anos. Voltou atrás em sua decisão, mas não deu o braço a torcer quanto a posições ideológicas. O homem que marcou o decisivo gol contra o Irã, Omar Al Somah, também esteve fora da equipe por conta de seu apoio aos rebeldes do Exercito Livre da Síria. Retornou ao time e acabou virando herói.

Situação diferente da do também atacante Mohannad Ibrahim, que deixou o escrete siriano por conta do cenário econômico que atravessa o país e da insegurança em sua terra natal. Ao contrário dos colegas de profissão, Ibrahim segue exilado e distante da equipe que representa o país. Para completar, outros atletas migraram para o Líbano, onde treinam com uma espécie de seleção rebelde, batizada de Síria Livre. Em outras palavras, a seleção da Síria tinha tudo para dar errado. Não joga com a força máxima disponível, atua em campos neutros e ainda é alvo de ataques oposicionistas. Mesmo assim, sobrevive.

Embora superar obstáculos seja prática constante na vida dos atletas sírios, ainda resta uma tortuosa estrada até o Mundial. Primeiro, a seleção terá dois confrontos contra a experiente Austrália, que esteve presente nas três últimas Copas do Mundo. Se passar, ainda será preciso enfrentar o quarto colocado das Eliminatórias das Américas do Norte e Central. Diante desse cenário, o rival seguinte poderia ser Panamá, Honduras ou até o tarimbado Estados Unidos, sem dúvidas o pior oponente possível. Entretanto, para quem já sofreu inúmeras tragédias recentes, sonhar com milagres é rito constante.

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