PF INDICIA COUTINHO E PRIMEIRA-DAMA POR SUPOSTO FAVORECIMENTO AO GRUPO CASINO
COUTINHO E 1ª DAMA INDICIADOS (FOTOS: MARCELO CAMARGO/ABR E T. MOURÃO)
'ACRÔNIMO SE TORNOU ANACRÔNICA', REAGE DEFESA DE CAROLINA
No relatório encaminhado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) no âmbito da Operação Acrônimo, a PF narra que Pimentel e Coutinho se articularam para impedir a concretização de um empréstimo do BNDES para o empresário Abilio Diniz, que buscava apoio do banco público para a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour. As informações são do Estadão.
Em fevereiro de 2011, Diniz apresentou o projeto de fusão a Coutinho, que teria autorizado a realização de estudos técnicos sobre a operação. À época, Diniz e os franceses do Grupo Casino disputavam o controle do Pão de Açúcar.
A PF aponta no relatório que o Casino, contrário à compra, teria efetuado pagamentos para uma empresa que cedeu 40% dos valores à mulher de Pimentel, Carolina de Oliveira, em contrapartida à inclusão de uma cláusula em desfavor de Diniz.
"A presença da cláusula condicionante a inexistência de litígio entre o Grupo Pão de Açúcar e o Grupo Casino na prática significou a manifestação prévia do BNDES sobre a necessidade de consenso entre o Grupo Casino e a família Diniz para a obtenção do apoio financeiro pleiteado, cancelando de forma antecipada o enquadramento da operação de fusão, impedindo assim a continuidade da análise do projeto", diz o relatório da PF.
Pimentel não foi indiciado porque é governador e tem foro privilegiado no STJ. A primeira-dama, Coutinho e o jornalista Mário Rosa, cuja empresa havia contratado Carolina para prestar serviços de assessoramento em trabalho contratado pelo Grupo Casino, foram indiciados pela PF por corrupção passiva. Já os executivos Ulisses Kameyama e Eduardo Leônidas, que teriam intermediado os pagamentos, foram indiciados por corrupção ativa. Eduardo Leônidas era executivo do Casino à época dos fatos investigados e hoje atua como diretor de Desenvolvimento e Estratégia no Grupo Pão de Açúcar.
A PF diz que "não há nenhum elemento concreto que evidencie a efetiva participação de Carolina na prestação de serviço objeto do referido contrato e que justifique o recebimento de quase metade do valor pago pelo Grupo Casino" à empresa de Rosa. E ainda demonstra que Carolina de Oliveira seria o "elo entre os interesses do Grupo Casino e Fernando Pimentel, então MDIC e com influência junto à presidência do banco público".
OUTRO LADO
Já o ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho afirmou que todas as decisões tomadas por ele envolvendo a tentativa de fusão entre Carrefour e Pão de Açúcar "estiveram dentro da mais absoluta legalidade e lisura" e que "nunca recebeu qualquer tipo de vantagem decorrente do referido processo nem tem conhecimento de que alguma outra pessoa o tenha feito".
De acordo com Coutinho, a cláusula contratual que exigia inexistência de litígio entre o Pão de Açúcar e o Grupo Casino "não foi inserida pelo então presidente do banco e sim determinada pelo comitê de enquadramento e crédito do BNDES". Segundo o ex-presidente, "trata-se de cláusula usual e prudente em negócios com potencial de litígio, o que naturalmente pode inviabilizar a transação". Além disso, ele alega que a contratação da MR Consultoria foi feita posteriormente à definição da cláusula.
Procurados pela reportagem, BNDES, Carrefour e Abílio Diniz não comentaram. O Grupo Pão de Açúcar (GPA) informou que o tema não envolve a empresa e direcionou o pedido de informações ao Grupo Casino. O Grupo Casino, por sua vez, disse que colaborou com as investigações durante todo o inquérito e se declarou "surpreso com suas conclusões equivocadas".
"A oferta hostil de fusão do Grupo Pão de Açúcar com o Carrefour foi à época amplamente rejeitada pelos acionistas, pela mídia e pela opinião pública", afirmou o Casino, acrescentando que continuará colaborando com a Justiça. A assessoria do Casino comunicou ainda que Eduardo Leônidas, que era do grupo e hoje atua no GPA como diretor de Desenvolvimento e Estratégia, não chegou a ter conhecimento das conclusões da Polícia Federal.
O jornalista Mario Rosa diz que nunca foi encontrado nada comprometedor contra ele, apesar de 29 meses de investigações. Ele afirma que nunca esteve no BNDES, que estava fora do País no dia da decisão e estava sendo sondado pelos dois lados em conflito. "Tudo com mensagens eletrônicas que posso comprovar datas, pessoas e locais. Só assinei o contrato bem depois da decisão", diz. Ele afirma ainda que seus honorários foram rigorosamente registrados e tributados. O executivo Ulisses Kameyama já se desligou da Casino e não foi localizado.
Claudio Humberto
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