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sexta-feira, 9 de março de 2018

ENCONTRO HISTÓRICO

Encontro com Trump é vitória estratégica do coreano

Se aceitar ditador numa negociação, americano está dizendo ao mundo que aceita seus termos


Se tudo não acabar em uma grande farsa, um encontro entre Donald Trump e Kim Jong-un será uma vitória estratégica do ditador norte-coreano. Obviamente Trump poderá dizer que dobrou Kim com sua retórica belicista exercida ao extremo ao longo de 2017, quando ameaçou ir às vias de fato com a ditadura comunista asiática. Mas o fato é que, caso seja confirmado o encontro entre os dois líderes, como anunciaram os sul-coreanos nesta quinta (8), os EUA terão passado o recibo definitivo à estratégia engendrada por Kim.
A lógica da dinastia da família Kim, à frente da Coreia do Norte desde o armistício da guerra com o Sul em 1953, sempre foi da autopreservação. Foi assim quando namorou Washington em 1994, prometendo um acordo pacífico de suspensão de produção de mísseis e armas nucleares em troca de petróleo. Com isso, foi garantido o poder interno da dinastia Kim em um momento de transição. O fundador da pátria, Kim Il-sung, morreu naquele ano, e seu herdeiro político, Kim Jong-il, assumiu e logrou ludibriar os americanos até 2002, quando deixou o acordo já fortalecido.
Em 2006, explodiu a primeira bomba atômica do país. Seu filho, o atual ditador Kim Jong-un, passou por um processo de consolidação de poder semelhante desde que assumiu, em 2011.
A gestão Trump, que assumiu em 2017 e prometeu "fogo e fúria" contra Kim, encontrou como resposta um aumento da qualidade e da intensidade do preparo nuclear da ditadura. O resultado é, como tudo que envolve ambos os personagens, algo burlesco.
Os EUA sabem que a Coreia do Norte está no mínimo perto de ser a potência nuclear que diz ser —isto é, poder destruir uma cidade americana ao menos, ou muitas cidades de seus aliados próximos (Coreia do Sul e Japão).
Se realmente aceitar Kim numa negociação, que teoricamente teria de ocorrer na China para agradar a todos, Trump está dizendo ao mundo que aceita os termos do ditador e que o considera um déspota respeitável. Isso dito, o presidente americano sempre poderá dizer a seu público que dobrou o militarismo do tigre de papel norte-coreano sem precisar devastar o país numa guerra imprevisível.
Resta agora saber se as aparências traem algo da realidade, e entender o papel do chinês Xi Jinping, patrono de Kim, no enredo.

Igor Gielow – Folha de S.Paulo

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