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domingo, 1 de abril de 2018

ELEIÇÕES 2018

Os últimos dias de Temer

Degradação da imagem do presidente faz com que seu caixão seja ainda mais difícil de carregar às urnas


Os deputados tendem a empurrar com a barriga uma nova denúncia da Procuradoria-Geral contra Michel Temer. Exceto em caso de “comoção grave”, a Câmara tentaria deixar a decisão sobre a abertura de um processo para depois da eleição. Não quer se envolver. Isso não resolve o rolo.
Ninguém dava crédito à candidatura de Temer, mas a prisão do resto dos homens do presidente mexe um tanto mais esse coquetel de imundícies e indignidades que é a eleição de 2018.
A degradação extra da imagem do presidente faz com que seu caixão seja ainda mais difícil de carregar até as urnas, em particular para o MDB. Os parlamentares do partido das gangues de Eduardo Cunha, Sérgio Cabral, Geddel etc. precisam se eleger para um foro especial, como tantos outros, verdade, mas têm o problema adicional de se dissociar de Temer na campanha, seja o presidente candidato ou não.
Já era difícil, deve ficar mais. Há rumor de novas prisões. Documentos escandalosos vão voar por aí. Há o risco de os presos novatos delatarem.
Para quem os MDBs vão se bandear? Os partidos que restaram na coalizão do governo, três ou quatro, vão pular em que barco? Temer é o beijo da morte pestilenta. Seu apodrecimento extra deve ter algum efeito nas alianças para uma eleição que, no primeiro turno, deve ser decidida por diferença de escassos pontos percentuais.
Quanto mais sururu, mais pressionados os políticos ficarão a dizer algo sobre o escândalo. Caso a procuradora-geral, Raquel Dodge, apresente nova denúncia, mais partidos ainda terão de explicar a proximidade com Temer.
Mesmo que Henrique Meirelles seja o candidato do MDB, a situação não melhora. O ministro ainda teria de carregar o zumbi presidencial nas costas. A situação econômica não deve ser atenuante, mesmo que o país esteja crescendo a 3,1% no terceiro trimestre (ante o mesmo trimestre de 2017), como prevê “o mercado”.
Seria uma recuperação pequena, dado o desastre; o desemprego ainda estará perto de 12%, e a precarização do trabalho será quase tão extensa quanto agora. Talvez o terço mais rico do país esteja mais animadinho, o que não deve refrescar a situação do governismo.
Difícil imaginar que Raquel Dodge não tenha uma denúncia em perspectiva. Quando seria? Entre a noite em que Rocha Loures rodou sua malinha de dinheiro pelas calçadas paulistanas e a primeira denúncia contra Temer, Rodrigo Janot levou dois meses (final de abril a final de junho) —e o antecessor de Dodge tinha pressa. Em pouco mais de um mês, a Câmara digeriu e negou a abertura de processo.
Esse calendário básico sugere que Temer vai ficar no bico do corvo até pouco antes da Copa, sendo triturado por revelações e pela ameaça constante de processo, no mínimo.
Segundo deputados, a desordem não vai bater logo e em geral no Congresso. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, pode aparecer como alguém que evitou a paralisia, tocando votações, ainda mais se largar sua campanha presidencial, tida como inviável até por cabeças de seu partido, o DEM.
Temer tem como adquirir sangue no Congresso, mas sua sobrevida vai se resumir a estrebuchar no Planalto e a dividir com Lula o centro do palco da desordem político-judicial do país.

Vinicius Torres Freire - Folha de S.Paulo

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