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domingo, 29 de abril de 2018

SE DESPEDINDO DA LIBERDADE

Personagem da semana: José Dirceu

Dirceu com a família e amigos, depois de ter conquistado a liberdade. Sua volta para a cadeia é vista agora como definitiva


Um dos ícones do petismo passa a semana em despedidas acreditando que voltará à prisão nos próximos dias, sem imaginar que possa retornar à liberdade

Apesar de ser o anfitrião da festa, José Dirceu estava mais calado do que de costume. Em clima de adeus, sem discursos e com um semblante abatido, o todo-poderoso da República durante o primeiro governo Lula (2003-2006) recebeu cerca de 30 convidados na noite do último dia 17, uma terça-feira, no salão do restaurante Tia Zélia, um dos favoritos do ex-presidente do PT em Brasília. O motivo do convescote: despedir-se da liberdade. Àquela altura, Dirceu tinha feito suas contas: seria preso nos próximos dias, já que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) julgaria naquela semana seus embargos de declaração — um dos últimos recursos a que tem direito — e o mandaria de volta ao presídio no Paraná onde ficou detido de agosto de 2015 a maio de 2017.
No jantar de despedida, o ex-ministro incluiu no cardápio um de seus pratos preferidos — rabada —, além de galinha caipira. Os escassos brindes daquela noite, que entoavam palavras como “por dias melhores” e “salve o Zé”, foram feitos com caipirinha e cerveja. Um dos melhores amigos de Dirceu, o advogado José Oscar Pereira, conhecido por fazer discursos em homenagem ao ex-ministro, preferiu o silêncio. Ao final, cada convidado foi ao caixa e pagou a própria conta, no valor de cerca de R$ 50 por pessoa sem bebida.
 “Era como se o Zé estivesse indo ao próprio velório”, relatou um dos presentes sobre o ânimo do petista, que ficou das 20h30 à meia-noite se revezando de mesa em mesa em conversas que iam de amenidades, como seus olhos roxos em decorrência de uma cirurgia plástica nas pálpebras, à prisão de Lula, que acontecera dez dias antes.
A ideia inicial era fazer um jantar para dez pessoas no escritório do advogado Roberto Podval, defensor de Dirceu, na capital federal. O local já funcionava como QG do petista para manter a discrição de encontros, principalmente com senadores e deputados do PT e outros nomes da política que queriam debater com Dirceu o cenário atual. No entanto, o tamanho do imóvel e a trabalheira de levar panelas e acessórios de cozinha fizeram com que o plano fosse abortado. Além disso, Dirceu queria um evento maior, com as pessoas que o apoiaram neste ano de liberdade, como o advogado Carlos Almeida Castro, Emídio de Souza — o tesoureiro do PT, que veio à Brasília só para o evento —, o deputado Odorico Monteiro (PSB-CE), o próprio advogado Roberto Podval, entre outros.
 “Não era um dia de celebração”, limitou-se a dizer o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), que passou no fim da festa para ver o ex-ministro. Antes de chegar ao Tia Zélia, Silva pretendia jantar em um restaurante a poucos metros dali, no mesmo bairro. Ao chegar, deparou com o presidente Michel Temer em uma reunião com a bancada do MDB, numa recepção para novos filiados do partido. Soube do evento de Dirceu, deu meia-volta e seguiu para lá.
Aquele jantar marcava o fim de uma série de encontros que o ex-ministro vinha fazendo para se despedir dos amigos e usar as horas que lhe restavam para fazer política. No domingo, recebeu em casa um de seus advogados e Lédio Rosa, desembargador aposentado que será candidato ao Senado pelo PT em Santa Catarina, para mais uma vez despedir-se e falar sobre o contexto eleitoral de 2018. Na segunda-feira, participou de uma plenária com o líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stedile, em Brasília, onde invocou os cerca de 100 militantes a ser implacáveis com o governo de Michel Temer e a se transformar em soldados engajados na liberdade do ex-presidente Lula. Apesar de ter proibido gravações no local, o petista queria garantir uma aparição pública em sua última semana nas ruas para dar um recado direto ao público. Horas depois, reuniu-se na casa de amigos para mais um jantar de despedida.
Seus filhos, neta e até Clara Becker, uma das ex-mulheres do político e mãe do deputado Zeca Dirceu (PT-PR), estiveram em Brasília para passar as últimas horas em torno do patriarca. Dirceu estava certo de que, com a confirmação da condenação de 30 anos e nove meses de prisão, viria o pedido para retornar imediatamente para trás das grades e tem dúvidas de que um dia possa se livrar delas.

ÉPOCA – Bela Megale

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