Desliga o celular, Neymar
E se concentra na bola
Não são só os brasileiros. Até os ingleses, que em outros tempos desfilavam sua fleuma diante do mundo, estão incomodados com Neymar. A imprensa de lá o detonou: “Mimado, resmungão, dramático e trapaceiro”. E olha que de drama e trapaça eles entendem como ninguém, e de futebol têm uma história de glórias só comparável a do Bonsucesso (o poderoso Panamá, goleado por 6 a 1 pela esquadra de Harry Kane, que o diga).
O que fez de tão condenável o camisa dez do Brasil até agora? No primeiro jogo foi o melhor da equipe, o que não é grande coisa, pois a atuação geral ficou aquém da expectativa. Operado no pé direito e fora de forma, tentou levar o time nas costas, recebendo pontapés, puxões e trompaços. Mesmo assim, começou o bochicho nas redes sociais: Neymar tinha sido uma nulidade, e, para piorar, com aquele cabelo de calopsita.
Veio a segunda partida, e o caldo entornou de vez. Cavar pênalti é inadmissível. Como assim envergonhar o país dos homens de bem e dos pais de família, tentando uma malandragem que ninguém faz no futebol, um esporte que coloca a ética acima de tudo? Atitude de mau-caráter. Xingar o árbitro e até um companheiro no calor da disputa? Coisa de moleque. O cartão amarelo foi pouco, devia ter sido expulso. O gol dele até eu fazia. Chorar depois da sofrida vitória? Imaturo demais, chama uma psicóloga. Imagina se o alemão Kroos, personificação do super-homem de Nietzsche, seria capaz de uma fraqueza dessas?
Em resposta, Neymar entrou no Instagram. Sua conta tem 96,2 milhões seguidores e está entre as 20 mais influentes da internet. Ele escreveu: “Falar até papagaio fala, agora fazer... poucos fazem”. Foi seu maior erro.
Como diria o treinador de clube suburbano, chupando uma laranja: “Garoto, vai bater a sua bola”. Que é redondinha, acrescento eu. Desliga o celular e esquece as redes sociais. Lá, os chutes são de outra categoria.
Álvaro Costa e Silva – Folha de S.Paulo
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