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sábado, 9 de junho de 2018

ELEIÇÕES 2018

Ciro Gomes e Jair Bolsonaro: Duas 'metralhadoras giratórias'

                                                          Ciro Gomes e Bolsonaro                                                            Foto: Arte: Folha de Pernambuco


Hoje em campos opostos, mas com estilos idênticos, Ciro e Bolsonaro têm arrebanhado adesões não pelos programas de governo ou pelas propostas ousadas, mas sobretudo pela língua afiada

“A realidade é dura para meus adversários. Precisam se conter em apontar pra mim e me chamar de bobo e feio, enquanto suas opções são bandidos, criminosos, corruptos, canalhas, desonestos”, pregou o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL-RJ), no Twitter, em janeiro desse ano, numa tirada que resume o seu estilo político. Com cinco milhões de seguidores no Facebook, tendo um engajamento invejável em relação aos concorrentes, Bolsonaro desponta como primeiro colocado nas pesquisas de opinião em que a candidatura do ex-presidente Lula (PT) não é citada.
Aproveitando essa tendência que favorece os candidatos populistas, “sem papas na língua”, o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) vem crescendo nas intenções de voto, ao se aproximar da linguagem do povo, o que pode consolidar seu nome no campo da esquerda. Analistas projetam que o embate entre Ciro e Bolsonaro pode ser a nova polarização, uma vez que PT e PSDB ainda não se firmaram na disputa.
A simples possibilidade da contenda entre Ciro e Bolsonaro se confirmar no segundo turno foi suficiente para mexer com o preço do dólar nos últimos dias. Tudo se deve à personalidade impulsiva ou “espontânea” desses dois nomes, que já protagonizaram o noticiário por diversas declarações polêmicas.
Ciro Gomes coleciona cerca de 80 processos por danos morais, calúnia e difamação, quase uma “metralhadora giratória”. O ex-prefeito de São Paulo João Dória (PSDB), por exemplo, acionou a justiça por ter sido chamado de “farsante” e “engomadinho que vive com o beiço cheio de botox”. O próprio Bolsonaro já processou Ciro, quando o ex-ministro acusou o capitão da reserva de ter recebido dinheiro ilegal do grupo JBS em 2014, durante a campanha eleitoral. 
O ex-governador do Ceará chegou a chamar Eduardo Cunha (MDB) de “maior bandido do país”, já classificou o presidente Michel Temer (MDB) de "ladrão fisiológico" e "chefe de quadrilha”, entre outros adjetivos nada gentis. Todas essas opiniões custaram medidas judiciais.
Bolsonaro, por outro lado, já foi condenado pelo crime de injúria, ao ter ofendido a deputada Maria do Rosário (PT), alegando que a petista “não merecer ser estuprada, por ser muito feia”. E além de incitação ao estupro, ele também é acusado de racismo, homofobia e machismo em outras circunstâncias. Esse currículo politicamente incorreto, entretanto, não incomoda o capitão da reserva do Exército. "Essa historinha de ódio quem mais fala é o pessoal da esquerda. Sou uma das pessoas mais atacadas e não dou bola para isso. A população faz filtro. Nosso problema é outro, é saúde, segurança, economia, educação", disse o presidenciável, em entrevista ao Poder360.
Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV)o deputado e o ex-governador protagonizaram as discussões durante a crise dos combustíveis, onde proliferaram cerca de 8,5 milhões de tuítes sobre o assunto. Nas redes sociais, Bolsonaro tem um desempenho muito superior aos concorrentes. O ex-presidente Lula chega a mais de 30% das intenções de voto e seu Facebook tem 3,5 milhões de curtidores e 338 mil seguidores no Twitter. Nesse aspecto, Ciro Gomes tem uma performance bem inferior na Internet, com 268 mil curtidores no Facebook e 166 mil no Twitter. Já Bolsonaro tem 5,3 milhões de curtidores no Facebook e 1,9 milhão no Twitter.
No caso de Bolsonaro, perfis satélites como “Jair Bolsonaro Presidente 2018” chegam a ter 800 mil curtidas, o que ajuda na propagação do discurso. O pedetista também dispõe de perfis aliados, como é o caso da página “Ciro Gomes Zueiro”, com 312 mil curtidas. Essa estratégia de misturar humor e política surfa numa tendência, percebida pela FGV, de internautas que falam de política utilizando piadas e memes. 
projeção dessas figuras, segundo o cientista político Elton Gomes, ocorre no contexto em que os maiores partidos (PT, PSDB e MDB) estão feridos de morte por escândalos de corrupção e seus líderes estão diretamente contaminados pela descrença. "Se for confirmado esse colapso do centro democrático, à direita e à esquerda, pode haver uma viabilidade do candidato anti-sistema ou com discurso mais radical", avalia. "(Dizer o que pensa) pesa seguramente. Vivemos um momento incomum, onde os candidatos com viés confrontacionista, sem papas na língua, tendem a ser vistos pelo eleitor de maneira privilegiada", averigua.
Abrindo vantagem por sua facilidade em conseguir adesões na internet, Bolsonaro já sente os efeitos da sua liderança nas pesquisas de intenção de voto. No seu site oficial, boa parte do conteúdo responde a provocações de adversários. Bolsonaro garante que não irá taxar heranças, lucros e dividendos (uma proposta de Ciro e Boulos), explica o episódio em que foi acusado de terrorismo quando ainda era do Exército e outra acusação de ter recebido, na eleição de 2014, a doação de R$ 200 mil da Friboi.
No campo da direita, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), que chegou a disputar o segundo turno contra Lula em 2006, não consegue empolgar nas sondagens e começa a atacar o ex-capitão. "Bolsonaro foge dos debates porque não tem o que dizer", afirmou Alckmin, desafiando o adversário direto a debater sobre segurança pública. Bolsonaro devolveu, dizendo que o tucano só devia procurá-lo quando atingisse dois dígitos nas pesquisas. O professor de Ciência Política da UFMG Carlos Ranulfo explica que o parlamentar vem atraindo eleitores de extrema-direita que antes votavam nos tucanos.
Ranulfo aposta que a experiência política de Ciro Gomes prevalecerá sobre a capacidade discursiva de Bolsonaro, que tem um mandato parlamentar sem grandes realizações. "O Ciro, certamente, amadureceu muito, já foi governador, já foi prefeito. Tendo disputado a presidência duas vezes, ele foi penalizado em função da sua personalidade forte. Agora ele pode lidar melhor com isso", acredita.
Tendo apoiado Ciro Gomes para presidente em 1998 e 2002, Bolsonaro nunca concorreu à Presidência da República, o que dificulta a sua caminhada. "Ele teria dificuldade de se moldar, nesse sentido. Qualquer tentativa de mostrar um Bolsonaro 'light' não tem credibilidade. O Ciro tem mais facilidade pra fazer discurso ao centro", pondera Ranulfo. Fazendo um contraponto, Elton Gomes indica que "o povão se identifica com o modo de se expressar do Bolsonaro. “É uma espécie de Lula às avessas. Sem sofisticação, sem rebuscamento, uma linguagem popular com as pessoas da periferia e esse discurso da moralidade tem um peso grande”.
Na visão de Elton Gomes, a intransigência de Ciro e Bolsonaro é um fator preocupante. "O presidente não é apenas o chefe do Executivo, é o líder de uma coalizão e precisa negociar, fazer barganhas, trocar benefícios nos estados por apoio no parlamento. Fernando Henrique e Lula criaram e mantiveram coalizões viáveis", aponta. "A primeira grande dificuldade do próximo presidente será se manter no cargo. Eles dois disseram que não transigirão, que não negociarão com o PMDB e isso tem o potencial de abalar o sistema político", adverte.
Na comparação com o caso americano do presidente Donald Trump, havia um comportamento parecido de maior espontaneidade. Chamou a atenção o fato de o próprio Trump usar o Twitter para expressar suas ideias, algumas com certo tom de excentricidade. A questão é que, diferente dos EUA, onde a democracia encontrou formas institucionais e políticas para frear a instabilidade, no Brasil não há garantias de que o sistema sobreviverá a uma postulação "aventureira". "Trump, em certo sentido, tinha esse padrão nacionalista, com o slogan ‘America First’ ou o 'Make America Great Again', só que nossos sistemas são muito diferentes. O pluripartidarismo e a experiência do impeachment que tivemos recentemente só demonstram o grau de incerteza que vivemos aqui", alerta.

FolhaPE

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