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sábado, 16 de junho de 2018

ELEIÇÕES 2018

Apesar do eleitor

Quem vota não apenas é ignorante como também tem dificuldades para reter informações corretas


Não existe déficit da Previdência no Brasil. Se a reforma original do Temer tivesse passado, o trabalhador precisaria contribuir por 49 anos para poder se aposentar. Metade dos gastos do governo brasileiro são para pagar juros a banqueiros.
Algumas proposições, como as do parágrafo acima, embora capciosas ou demonstravelmente falsas, pegam. E elas podem ter efeitos políticos. Se uma pessoa crê que o sistema de aposentadorias é hígido do jeito que está, não tem mesmo por que apoiar uma reforma da Previdência. Como sair dessa encrenca?
A resposta de 8 entre 10 analistas é que precisamos informar o eleitor para que ele possa dimensionar os problemas corretamente e tomar decisões de voto consistentes. Longe de mim sugerir que as pessoas não devam sempre receber as melhores informações disponíveis sobre tudo. Receio, porém, que as coisas não sejam tão simples.
A cada vez mais extensa literatura que aponta as incoerências do eleitor mostra que ele não apenas é ignorante como também que tem dificuldades para reter informações corretas que eventualmente receba. Isso fica claro num experimento de Michael Ranney que foi depois replicado por outros laboratórios.
O pesquisador pediu às suas cobaias que oferecessem suas estimativas para cifras dos EUA como taxa de imigração, de encarceramento, proporção do orçamento destinada à ajuda externa, que são indispensáveis para a definição de políticas para as respectivas áreas. Como costuma acontecer, as pessoas se saíram mal, desfilando números muito distantes dos reais.
Ranney forneceu então os dados certos a seus voluntários. A esperança era que aprendessem. Mas, quando convidados a repetir o experimento 12 semanas depois, as estimativas que apresentaram eram indistinguíveis das que haviam sido feitas na primeira rodada. Ou seja, a “aula” não serviu para nada.
Sabemos que a democracia funciona, mas não é por causa do eleitor.

Hélio Schwartsman – Folha de S.Paulo

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