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sexta-feira, 22 de novembro de 2019

ASSASSINATO A MORADORA DE RUA

Antes de ser morta, moradora de rua disse estar com muita fome

Imagem de câmera mostra o momento em que Aderbal saca a arma e atira em Zilda Leandro Foto: Reprodução 
Pouco antes de ser morta a tiros, moradora de rua de Niterói disse estar com "muita fome". Segundo Fabiano Trindade, de 29 anos, que vivia ao lado de Neia há três anos, a mulher era uma "pessoa tranquila".

Pouco antes de ser baleada e morta na manhã do último dia 16 , a moradora em situação de rua Zilda Henrique dos Santos Leandro, de 31 anos, reclamou que estava com fome. Conhecida pelos amigos como Neia, a mulher dormia ao lado do marido na Praça São João, no Centro de Niterói, Região Metropolitana do Rio, quando, por volta de 4h30, decidiu levantar e ir pedir dinheiro na região. Segundo também morador em situação de rua Fabiano Trindade, de 29 anos, que vivia ao lado de Neia há três anos, a mulher era uma "pessoa tranquila", apesar de ser usuária de drogas e de ter algumas passagens pela polícia.
— Estávamos deitados e ela disse que estava com muita fome, que precisava pedir dinheiro na rua e comprar pão. Eu ainda falei para ela esperar, que aquela hora não tinha nenhum padaria aberta, mas ela não me ouviu. Acabou acontecendo essa tragédia — conta o homem.
Segundo Fabiano, Neia saiu de casa há cerca de dez anos depois de brigar com a família, que não aceitava o fato dela fumar e consumir bebidas alcóolicas. O homem conta que uma das irmãs da vítima, na ocasião, a ameaçou com uma faca durante uma discussão. Depois disso, Neia optou por viver nas ruas, onde passou a usar cocaína.
— A família dela tentou levá-la de volta para casa pelo menos três vezes, mas ela não aceitou ir. Aqui nas ruas ela me ajudava a recolher materiais recicláveis e já vendeu doces no sinal e entregou panfletos.
O marido de Neia lembra ter ouvido os tiros que atingiram a mulher. Segundo ele, ela já chegou a morar em alguns abrigos municipais, mas a falta de estrutura e as condições precárias fizeram ela voltar às ruas.
— Eu estava deitado e ouvi os tiros, mas não imaginei que pudessem ser para ela. Lembro de ter ouvido um ou dois disparos — conta Fabiano, citando que a mulher foi a terceira pessoa em situação de rua a ser assassinada em pouco mais de um mês: — Mataram um homem aqui na "prainha", há umas semanas, e uma mulher na rodoviária.
Autor dos disparos foi preso.
Até a tarde desta quinta-feira, o comerciante Aderbal Ramos de Castro, que aparece em imagens de câmeras de segurança atirando contra a vítima, aguardava a transferência da sede da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG) para uma unidade prisional. A advogada Daniella Lopes, que defende o homem, diz que vai entrar com um pedido de habeas corpus, sem uma previsão.
— Provavelmente Aderbal será transferido e encaminhado ao sistema penitenciário. E com certeza vamos entrar com o habeas corpus. A regra é a liberdade no curso do processo, sendo a prisão a exceção.
Zilda foi sepultada na manhã da última terça-feira, no Cemitério de Maruí, Barreto, em Niterói. Ela foi assassinada na Rua Barão de Amazonas, esquina com Rua Marquês de Caxias, no Centro de Niterói. De acordo com a polícia, a mulher abordou Aderbal pedindo R$ 1. Uma testemunha que viu o crime contou que o homem "matou a mulher friamente e saiu como se nada tivesse acontecido". Ele foi detido nesta terça-feira e, à polícia, diz ter reagido a uma tentativa de assalto.
— Ele apenas se defendeu de um assalto. As imagens não conseguem pegar todo o entorno da rua e não dá para ver quantas pessoas estavam ali. O que sabemos é que varias pessoas chegaram até ele para tentar pedir dinheiro. Ele foi surpreendido. Como ele já tinha sido vítima de assalto antes e a pessoa já chegou gritando com outras pessoas, ele receoso e de impulso reagiu para não ser assaltado — garantiu a defensora, em entrevista na especializada na quarta-feira, tentando desqualificar as imagens que mostram o assasinato.
A DHNSGI informou que Aderbal não tinha passagens pela polícia e que a arma, um revólver 38, foi comprada por ele e estava registrado em seu nome. Ainda segundo a polícia, o suspeito possui posse, mas não porte de armas. Dessa forma, não poderia estar armado na rua já que a posse autoriza apenas tê-la em casa ou em local de trabalho.

O Globo - Diego Amorim

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