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domingo, 22 de março de 2020

CORONAVÍRUS

Como manter o equilíbrio em meio à pandemia do novo coronavírus

Tallita Marques concilia as demandas de home office com os cuidados com o filho FelipeFoto: Acervo pessoal


Com a recomendação de isolamento domiciliar, saiba como manter a saúde mental durante esse período

Embora não se trate de um fenômeno inédito na história, uma pandemia como a do novo coronavírus é uma experiência que seria quase impossível alguém afirmar hoje que vivenciou. Apenas quem viveu no fim da década de 1910, no século 20, ou seja, há mais de 100 anos, e era “grande” o suficiente para recordar poderia se dizer testemunha de outro quadro geral de contaminação a tomar proporções mundiais, com taxas de mortalidade bem maiores. Estima-se que a gripe espanhola – doença, provavelmente, tão contagiosa quanto a covid-19 – tenha matado de 40 a 50 milhões de pessoas em 1918. Uma época diferente, de recursos tecnológicos muito mais escassos.

De lá para cá, outras epidemias, como as das gripes asiática e A (H1N1), se alastraram, mas com letalidade e capacidade de expansão em menor escala. Nenhuma delas chegou perto de obrigar governos a fechar fronteiras, comércio, construção civil, escolas, universidades, salões de beleza, bares e restaurantes, proibindo aglomerações e cancelando shows, viagens, festas, casamentos e competições esportivas.

Das redes sociais à imprensa, não se fala de outro assunto. Entre memes e piadas de WhatsApp, usuários, resguardados em lares de todo o País, imploram para que ninguém saia de casa. O alerta é dedicado a quem ainda insiste em ir à rua “sem motivo”. Afinal, o parasita invisível pode se instalar em qualquer lugar ou quase todo ser vivo do planeta. Ninguém segura mais a mão de ninguém, e o que, até poucos dias atrás, era entendido como demonstração de afeto que faz bem à alma – um beijo e um abraço – virou insulto e motivo de medo.


No meio deste cenário, como evitar ou, ao menos, controlar a ansiedade e a fadiga mental provocadas pelos alardes e bombardeios de informações? A pergunta vale uma reflexão mais prolongada, pois as possíveis respostas para ela vão além de utilizar as diversas opções de entretenimento oferecidas na internet. Primeiro, é importante lembrar que as medidas de contenção que estão sendo tomadas agora são também preventivas e que, como recorda o primeiro parágrafo, o mundo, em condições tecnológicas e sanitárias mais adversas, já enfrentou outras crises de saúde semelhantes.

“A história, não vamos dizer que se ‘repete igual’, mas acontece de formas muitos parecidas. Tivemos a peste bubônica, a gripe espanhola, vários momentos de tuberculose no mundo. Nós tendemos a achar que o momento que estamos vivendo agora é excepcional, o mais terrível”, observa a pesquisadora Denise Pimenta, doutora em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo (USP).

“Nós já tivemos [epidemias], aprendemos várias coisas e agora vamos ter novas. Tem muito a ver com a globalização. As pessoas sempre circularam, então sempre levaram doenças de um espaço para o outro. E o pânico é porque isso tudo é muito novo para a gente. Isso sempre acontece, mas é a nossa geração que está vivendo. E hoje nós temos uma circulação de informação muito rápida por conta da internet”.

Para ver e ler com calma

Se há uma vantagem em matérias mais analíticas de fim de semana, especialmente aquelas publicadas em revistas e jornais como a Folha de Pernambuco, é que permitem uma leitura mais demorada, sem tanta urgência, ao mesmo tempo que trazem informações acuradas.

Pois eis a primeira dica da psicóloga Conceição Pereira, especialista em Gestão de Crises, Emergências e Desastres: se informar e filtrar o que recebe como notícia pelo celular. “É preciso se apropriar de informações que sejam verdadeiras, fazer um filtro e procurar blindar-se. É importante principalmente para aquelas pessoas mais ansiosas, com tendência a se angustiarem muito diante de situações novas. Se você deixar se levar pelas informações que recebe, sem conversar com outras pessoas, vai provavelmente entrar num redemoinho que, ao invés de ajudar a sair do medo, o empurre para baixo”, considera.

Para fazer esse distanciamento, sem deixar de se informar o suficiente para se proteger, uma atitude que pode ajudar é estabelecer uma rotina dentro de casa, procurando manter as atividades que costuma fazer no dia a dia. “Seria até saudável que você possa tomar banho e trocar de roupa como se estivesse se preparando para sair. E aí vai para um lugar onde se sinta melhor. É no quarto? É na varanda? Vai para lá”, orienta a psicóloga Conceição Pereira. Além das ocupações de estudo ou do trabalho remoto, reservar um horário para a organização do espaço onde mora contribui para se sentir ativo e no controle da situação, já que a limpeza também previne contra a entrada de vírus e outros micro-organismos.

A tecnologia a favor das relações
Um detalhe importante nesse contexto é usar a tecnologia disponível para se conectar com as outras pessoas e estreitar as relações. O isolamento domiciliar provocado pela suspensão de serviços em locais públicos não precisa ser um fator negativo que aprofunde a sensação de estar só. Pelo celular ou computador, a comunicação com o resto do mundo pode ser feita em poucos segundos. Além disso, independente de ter acesso a esses dispositivos, o período de quarentena é uma oportunidade para o estímulo de interações no ambiente doméstico por meio de atividades em conjunto com as pessoas do próprio convívio.

É o que faz a jornalista Tallita Marques, de 39 anos. Pais de Felipe, 6, ela e o marido não saem de casa, no bairro do Prado, Zona Oeste do Recife, desde o fim de semana passado. “Desde sábado [13 de março], estou sem contato com outras pessoas além do meu filho e do meu marido. E eu não vejo os meus pais desde a quarta-feira da semana passada, por opção, porque eles são idosos”, conta.

“Quando foi divulgado o primeiro caso confirmado em Pernambuco, eu já estava meio receosa, mas ninguém tinha ainda noção. Foi muito rápido. Eu tenho um colega que mora em Londres, outro no Canadá, tem médicos também que estão na ponta, e eles começaram a dizer que logo as emergências iam funcionar para coronavírus. Comecei a tomar meus cuidados. Meu filho ainda foi à escola na sexta, e passamos a nos isolar”.

Sem poder visitar ninguém nem fazer reuniões, ela se conecta por meio de vídeo chamadas. “Eu nunca gostei de ligação. Então, falo toda descabelada, o povo também”, brinca. Assim, a tecnologia ajuda a reduzir os efeitos do isolamento. “É a forma que estou tendo de me aproximar mais dos meus. O que importa é você ver a pessoa. Eu tenho um irmão que mora na Irlanda, já fiz uma chamada de vídeo com ele. Fiz com meu primo, que mora nos Estados Unidos. Fiz com os meus pais e minha irmã, que vivem a apenas três quilômetros daqui. Chamei para a gente tomar café junto”, diz.

Para Tallita, que trabalha como freelancer, a rotina depois do coronavírus não sofreu muitas alterações. A principal mudança foi conciliar as atividades do trabalho remoto com a atenção ao filho junto dela o dia todo. Mas, assim como a mãe buscou adaptar o próprio dia a dia ao isolamento domiciliar, Felipe não pode deixar as tarefas de lado. “A escola mandou o conteúdo já dado e devolveu os livros das crianças. Desde terça-feira, estabelecemos um horário de estudo. Aos trancos e barrancos, porque ele não quer. Eu digo: ‘Você não está de férias’. Ele estuda de manhã no horário que seria da escola”, afirma.

“Virei a Maria da vassoura, passando álcool em gel nas coisas, lavando as mãos. E na hora de brincar, fiz um bolo com ele, a gente já jogou de memória. Ele gosta de desenhar, slime. Tenho visto dicas e o que a gente tem disponível em casa e vai inventando”.


Por: Artur Ferraz 

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