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domingo, 22 de março de 2020

CORONAVÍRUS

Informação é essencial para manter a calma na pandemia, diz psicóloga


Conceição Pereira, do Conselho Regional de Psicologia de PernambucoFoto: Silvannir Jaques/Divulgação


Especialista em Gestão de Crises e Emergências, Conceição Pereira afirma que é preciso filtrar o que se recebe como notícia. Para ela, estabelecer uma rotina em casa também ajuda no equilíbrio emocional.

Além de fazer as pessoas se isolarem dentro de casa, a pandemia do novo coronavírus representa, para muita gente, uma ameaça não só à saúde física como ao bem-estar mental. A psicóloga Conceição Pereira, especialista em Gestão de Crises, Emergências e Desastres, acredita que os transtornos provocados pela doença e pelos riscos de contaminação podem ser trabalhados a partir de medidas simples do dia a dia.

Com 40 anos de atuação na área, Concita, como é conhecida no meio, faz parte do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco (CRP-02) e integra o Grupo de Trabalho sobre Emergências e Desastres do Conselho Federal de Psicologia. Em entrevista à Folha de Pernambuco, ela afirma que buscar informações de fontes confiáveis é fundamental para lidar com o problema.


A ameaça da pandemia causada pelo novo coronavírus (Covid-19) pode trazer diversas consequências para a saúde mental. Como devemos trabalhar nossas emoções nesse cenário?
Eu penso que, nesse primeiro momento, a população está assustada – não necessariamente um estado que possamos chamar de estresse avançado. Estamos assustados com algo que é inteiramente novo para todo mundo. À medida que temos informações precisas, que não se contradigam muito e nos preencham um pouco mais sobre como lidar melhor com a situação, é evidente que haverá possibilidade de a população sair dessa condição de estar assustada e tentar entrar em contato com o problema numa condição de ação, e não de se impactar e se paralisar. Isso é importantíssimo. Eu tenho que dizer que vocês da mídia estão fazendo um belo trabalho porque estão trabalhando sem parar, trazendo informações. E eu imagino que estão buscando as informações mais precisas e pertinentes. O grande perigo em qualquer gestão de crise é o desencontro de informações e a perspectiva de que a população não se sente segura com a informação que está recebendo.

Hoje, com os meios de comunicação mais instantâneos, o fluxo de informações é muito alto. Como lidar com isso? Devemos filtrar melhor o que chega como informação?
É importante, principalmente para aquelas pessoas mais ansiosas, com tendência a se angustiarem muito diante de situações novas, exercitar uma condição pessoal de fazer esse filtro e, muitas vezes, se afastar um pouco dessas informações. O que elas poderiam fazer nesse momento? Se ocupar de outras coisas da rotina. Se elas podem trabalhar de casa, se dedicar, de fato, aos trabalhos. O que a gente verifica é que as pessoas estão vivenciando uma ampliação de uma vivência de estresse a partir de um “inimigo invisível”, em que é preciso compreender o que está se passando e verificar como podemos, nas nossas limitações pessoais, rever comportamentos aprendidos em outros tempos e que precisam ser reconstruídos. Lavar as mãos constantemente, cuidar das limpezas específicas daquilo que está ao redor, não levar com frequência as mãos ao rosto… De repente, essas informações ficaram como foco, uma maneira de ser para cada um de nós. Algumas pessoas vão ser mais resilientes, e outras nem tanto. Mas, provavelmente, estas nem tão resilientes já têm histórias anteriores de situações que tiveram muita dificuldade de lidar e vão precisar de cuidados específicos. Nesse primeiro momento, os cuidados têm que vir do grupo com o qual essas pessoas conseguem conviver, seja no contexto presencial ou on-line. Aqui em casa somos três adultos e uma criança, e cada um no seu computador ou televisão, e as informações vão circulando entre nós. Precisamos compartilhar as informações e buscar consenso dentro dos nossos espaços até para que tenhamos uma boa convivência, porque nós não sabemos por quanto tempo vamos ficar em nossas casas, nos resguardando. Se você se deixar pelas informações que recebe, sem conversar com outras pessoas, pode entrar num redemoinho que, em vez de ajudar a sair do medo, te empurre para baixo.

Como filtrar essas informações?
Isso perpassa muito por vocês da [área da] Comunicação em orientar as pessoas a se valerem dos sites oficiais, da Organização Mundial da Saúde, do Ministério e das secretarias estaduais e municipais. Acompanhar aquilo que está sendo mais divulgado em sites oficiais e aqueles ditos que têm fidedignidade naquilo que estão apresentando. Se recebo alguma informação que parece ter alguma pertinência, eu preciso checar. Esses são pontos que precisam ser utilizados como ação. Na hora em que você age, você tem a sensação de que está fazendo algum controle da situação. E isso não é ruim porque, como, neste momento, estamos nos sentindo muito desalojados, numa sensação de vulnerabilidade extrema, tomar ações que possam nos trazer algum tipo de controle sobre nós mesmos já é um ponto de referência. Para as pessoas já afetadas psiquicamente, se elas tiverem alguém até no contexto da virtualidade que possa trazê-las ao ponto de equilíbrio, é importante. Nas redes sociais, psicólogos do Brasil inteiro estão se mobilizando em criar espaços de atendimento virtual tanto para a população em geral, mas também para os profissionais de saúde que estão no front de atuação direta com o vírus, sejam eles médicos, enfermeiros, assistentes sociais.

Além de buscar informações seguras, o que se pode fazer em casa para reduzir o estresse e manter a mente relaxada?
É preciso criar um outro tipo de rotina agora, que você está dentro de casa. Vivíamos uma situação no mundo em que dizíamos não ter tempo para nada. Parece que agora passa a ter tempo demais. Não é bem isso, se nós formos pensar dentro de uma composição mais ampla. Uma das coisas que é preciso retomar é o sono. Procurar dormir o máximo de horas que faça bem para o seu organismo. E você pode criar uma rotina mais ou menos assim. Ao acordar, ter uma linha de planejamento do que pode fazer durante o dia. Naquilo que você quer saber de notícia, você pode, pela manhã, ouvir as fontes mais fidedignas que você vai selecionar. Posteriormente, tentar desenvolver uma rotina específica. Tem trabalho? Imprime algo que seja parecido com aquilo que você fazia. Seria até saudável que você possa tomar banho e trocar de roupa como se estivesse se preparando para sair. E aí vai para um espaço onde se sinta melhor. É na varanda? É no seu quarto? Vai para lá. Outra coisa que aponto como ponto de referência importante é a perspectiva de olhar o outro que, neste momento, está junto da gente. Muitas famílias estão reunidas e acostumadas cada um no seu mundo de trabalho, e o tempo específico para ficar em casa era extremamente reduzido. Na hora em que eu me volto para brincar com os meus filhos ou para cuidar da pessoa mais idosa, isso vai me dar mais respaldo. Na hora em que nos voltamos para o outro, nos esquecemos, digamos assim, das nossas próprias angústias. A partir do celular, ou pelo Skype, você pode conversar ou brincar com os seus netos.

Lidar com a solidão pode ser um desafio tanto para quem vive sozinho quanto para os idosos, que, como grupo de risco para a doença, podem sofrer mais com os impactos do isolamento. De que forma podemos lidar com isso?
Estar um pouco só não será tão ruim, tendo alguns momentos para si mesmo. O que não pode é você transformar essa condição específica numa perspectiva de abandono. Eu posso até me entregar um pouquinho à própria solidão, mas não posso me sentir abandonada, porque senão eu vou imprimir um sofrimento maior por estar só. Por isso, é importante se manter conectado com outras pessoas, até on-line, mesmo morando sozinho. Você pode até, pela tecnologia de hoje, assistir a um filme, fazer leituras, com alguém.

Aproveitar esse tempo para organizar a casa também ajuda?
Muito! Existem teóricos da psicologia que dizem que essa perspectiva de arrumar o espaço ajuda nas próprias organizações psíquicas. E hoje a gente pode estabelecer uma relação direta com aquilo que está sendo informado como ponto de referência maior: a higienização. Sem entrar numa perspectiva de exagero, você pode criar uma rotina voltada para ações de higienização, em que você toma ações que lhe dão respaldo, inclusive, para se prevenir.


Por: Artur Ferraz

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