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sexta-feira, 8 de maio de 2020

CORONAVÍRUS

“Me sinto no dever de continuar minha vida”, diz Aline Moura


Foi no cômodo ao lado de onde cumpria o isolamento que a jornalista Aline Moura, de 45 anos, viu a sogra Conceição Pedroza, de 73 anos, pela última vez. Ambas com sintomas do novo coronavírus, se mantiveram afastadas dentro dos limites possíveis. Conceição sofreu uma parada respiratória, foi encaminhada a um hospital do Recife, mas chegou quase sem vida e não resistiu.
O caso aconteceu no dia 25 de abril, à noite. Aline estava no quarto quando ouviu um barulho estranho na sala. "Eu abri a porta para ver o que estava acontecendo do lado de fora, por causa do barulho, e ela já estava tendo parada respiratória", contou.
Segundo Aline, Conceição já havia sofrido um acidente vascular cerebral, não andava e não falava. "A rotina dela era muito difícil, porque dependia dos filhos para viver, se alimentar, tomar banho, trocar as fraldas, se arrumar", disse.
Enquanto os sintomas de Aline evoluíam, os de Conceição também não paravam de aumentar. "[Antes da parada respiratória], optamos em não levá-la para o hospital porque todo mundo falava que era mais fonte de contaminação e que ela seria entubada, o que não queríamos, porque ela já tinha sofrido muito", explicou.
Minutos após a parada, Conceição foi socorrida ao hospital mais próximo, mas chegou na unidade "praticamente sem vida", segundo a nora.
"Não houve como reanimá-la. Ele [o filho] pôde ir lá vê-la porqueele havia sido o socorrista. Ele ainda deu um beijo de despedida no rosto dela", contou Aline. Os outros filhos ficaram a uma distância de mais de 200 metros, no enterro.
"No hospital, disseram que ela teve Síndrome Respiratória Aguda Grave, diabetes e hipertensão arterial. Ainda não houve diagnóstico da Covid", disse.
Contaminação de Aline
Além da dor pela perda da sogra, Aline conviveu com os sintomas da Covid-19 por vários dias. Ao contrário de Conceição, a jornalista recebeu o diagnóstico da doença.
"Eu tossia sem parar, sentia dificuldade ao respirar, o peito estufava e o ar não vinha. Parecia que tinha alguém pressionando o meu pulmão porque ele doía", disse Aline.
Fumante há mais de 20 anos, a jornalista pensou que os sintomas poderiam ter algo a ver com esse histórico, já que estava há apenas cinco dias sem colocar um cigarro na boca.
"Tinha largado o cigarro cinco dias antes, porque me disseram que ser fumante era mais um fator de risco para o Covid e eu já tinha uma culpa cristã imensa dentro de mim por fumar", contou.
Aline disse que não sabe de onde pode ter vindo a contaminação, embora estivesse saindo para trabalhar. "Somente o meu marido ia ao supermercado, saía de casa para resolver tudo que a casa precisasse, mas eu usava o mesmo carro que ele", disse.
Segundo a jornalista, o ritual da casa era chegar, tirar o sapato na porta e seguir direto para o banho. Seu companheiro, Antônio Junior Pedrosa de Vasconcelos, de 48 anos, filho de Conceição, não foi contaminado
"A contaminação pode ter vindo de qualquer lugar. Era eu que colocava as roupas sujas na máquina de lavar. Então, eu posso ter respirado alguma coisa das roupas. Fazemos compras, toda mulher tem bolsa...", afirmou.
Doze dias após a perda da sogra, Aline se recupera da contaminação pelo novo coronavírus e se preparar para voltar ao trabalho, agora em home office. "Ainda estou no luto sim, com medo porque a tosse ainda não foi embora, depois de 14 dias. Sofrendo ao ver as filas da Caixa, ao saber a realidade da minha família e de tantas outras. Passamos dias aqui em casa com vários sacos espalhados para serem levados, porque respeitamos os garis e alguém que pudesse tocar no que usamos. As coisas também ficaram de quarentena", contou.
Segundo a jornalista, a recuperação vem com um espírito positivo, apesar dos pesares. "Me sinto no dever de continuar minha vida, de lutar, de ser feliz, de estudar mais, de me dedicar mais ao relacionamento, porque creio que tive uma nova chance dada por Deus", disse.

Do G1

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