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terça-feira, 12 de maio de 2020

O FIM DE UMA LENDA

O TRISTE FIM DO DIARIO

Ao ler no Blog do Magno Martins, a notícia de que o DIARIO DE PERNAMBUCO, a partir de quinta-feira (14/05/2020), deixa de circular na versão impresso, foi inevitável um mergulho no passado. Afinal, foram mais de duas décadas bem vividas na redação do jornal mais antigo em circulação da América Latina.
O ano era de 1975. A época, o editor geral do DIARIO era Diógenes Brayner, que me levou para fazer um teste na equipe de esportes capitaneada por Adonias de Moura. No mesmo período chegava à redação um outro rapaz para fazer teste na editoria de política: José Adalberto Ribeiro.

Deslumbrado com aquele novo mundo ao qual estava sendo apresentado, me interessei pelos detalhes, e fiz questão de conhecer todos os personagens que faziam um dos jornais mais importantes do País. O próprio Brayner me apresentou aos "cardeais": Zuza (chefe da oficina); Adonias de Moura (editor de Esportes) e José Maria Garcia (editor de Diagramação). Gladstone Vieira Belo e Joezil Barros estavam num outro patamar. O DP era comandando por Nereu Bastos e Antônio Camelo.
A caminho dos seus 150 anos, o DIARIO DE PERNAMBUCO era uma das empresas mais rentáveis do conglomerado dos Diários e Emissoras Associados.
Vestir a camisa do DP era um orgulho para todos nós que fazíamos parte daquela grande "família". Isso mesmo, uma grande família. Era assim que nos comportávamos na redação. Os editores cuidavam de suas equipes com um zelo admirável.

Me assustei quando vi um cadeado numa máquina de escrever. Era a máquina do jornalista Adeth Leite, crítico de teatro. A equipe de esportes do mestre, Adonias Moura, só tinha fera: Lenivaldo Aragão, Robson Sampaio, Sílvio Oliveira, Amaury Veloso, Júlio José e Valdi Coutinho. Depois saíram Robson, Silvio e Lenivaldo, que foram substituídos por Paulo Germano, Cláudio Santa Cruz e Everaldo Xavier. A primeira mulher a fazer parte da equipe de esportes foi Rosineide Barbosa. Depois vieram Roberta Aureliano e Karina Falconi.

Impossível citar todos os nomes que conheci durante os mais de vinte anos de redação, mas não podemos esquecer algumas legendas como Raimundo Carrero, Selênio Homem de Siqueira, Lúcio Costa, Pelé, Marcelino, Militão, Bené, João Alberto Sobral, Ângelo Castelo Branco, Márcio Maia, Danda Neto, Paulo Fernando Cravero, Paulo Viana, Cacho Borges, Zadock Castelo Branco, Antônio Magalhães, Heleno Ramalho, Dalci Brigido, Orismar Rodrigues, Cristovão Pedrosa, Cleofas Reis, Ildefonso Fonseca, Ricardo Leitão, Homero Fonseca, Magno Martins, Carlos Cavalcanti, Wilson Soares, Eliomar Teixeira, Ivan Maurício, Eduardo Ferreira, Zenaide Barbosa (primeira mulher a ser editora geral em um jornal de grande circulação no Brasil), Vanessa Campos, Ana Maria Guimarães, Marisa Pontes, Maria Luiza Borges, Fernanda Barreto, Marilene Mendes, Graça Prado, Gersina Primo, Valdeluza, Mariza Gibson, Tia Lola, Leda Rivas...

Os anos foram passando e os protagonistas foram mudando. Surgiram novos quadros de brilhantes jornalistas: Jorge Morais, Roberta Aureliano, Beto Lago, Ricardo Dantas Barreto, José Gustavo, Paula Imperiano, Vera Ogano... As mudanças no patrimônio humano ocorriam de uma forma natural. Afinal, para escrever uma história de quase dois séculos se faz necessário várias gerações de jornalistas.
O que não se esperava era que a estrutura do DP fosse ruir.

A Praça da Independência, no centro do Recife, não era do povo. Era a pracinha do DIARIO. Ali aconteciam os grandes movimentos políticos. No carnaval, o prefeito entregava a chave da cidade ao Rei Momo num palanque erguido na calçada no Diário, que estava presente em todos os roteiros de clubes e troças, dentre eles, o Galo da Madrugada, nos seus primeiros desfiles.
Nas décadas de 70. 80 e 90 do século passado, o DP esteve presente em quase todas as competições oficiais, torneios e amistosos disputados pela Seleção Brasileira de Futebol. Cobriu Olimpíadas, Paraolimpíadas; promoveu a Copa Arizona de Futebol Amador, competição que, na última edição, reuniu mais de cem equipes de futebol amador; promoveu a Olimpíada da Criança...

Um dia, sem a menor noção da história do maior jornal em circulação da América Latina, os homens que estavam no poder cortaram seu cordão umbilical com o Recife. Tiraram o velho DP do seu berço: a Praça da Independência. E começou a lhe faltar oxigênio. Rasgaram sua identidade.

Lhes deram uma casa nova, na Rua do Veiga, em Santo Amaro, mas faltava a alma e o amor dos grandes jornalistas. A redação se tornou fria, com cada qual conversando com seu próprio computador, fazendo consultas ao google, que é o dr. sabe tudo da nova era. O DP havia perdido o sentido de família.
Com o comando passando de uma mão para outra, a cada nova gestão, uma queda, uma descida de degrau. O jornal mais antigo em circulação da América Latina se tornara um ancião com dificuldade de entrar em sintonia com o novo tempo. Lhes levaram para um edifício quase em ruínas no Recife Antigo.
O velho DIARIO começou a agonizar.
E surge o novo coronavírus para devastar lembranças e sonhos, pondo um ponto final a uma das histórias mais bonitas dos jornais impressos.

CLAUDEMIR GOMES

2 comentários:

  1. https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=951231508679546&id=100013781166177

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  2. Estou publicando minhas memórias em meu Facebook. Lendo está matéria sobre o Diário de Pernambuco, resolvi enviar um link das lembraças que tenho com Adeth Leite: https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=951231508679546&id=100013781166177

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