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segunda-feira, 10 de maio de 2021

QUEM TEM RAZÃO?

Coronavírus e o duplo padrão da imprensa brasileira

Máscaras faciais reduzem o risco de contaminação por críticas da velha imprensa | Foto: Reprodução/Mídias Sociais


Segundo parte da mídia, as aglomerações podem tanto contribuir para a disseminação do vírus chinês quanto não causar efeito algum — depende da inclinação ideológica de quem as promove

Em 5 de junho de 2020, a despeito do recrudescimento da pandemia do coronavírus, que já empilhava cadáveres pelos Estados Unidos, o movimento Black Lives Matter organizara centenas de manifestações pelas cidades do país, causando tumulto e aglomeração. Na ocasião, os militantes protestavam contra a morte de George Floyd, asfixiado duas semanas antes pelo então policial Derek Chauvin. Segundo a mídia local, milhares de manifestantes foram às ruas.

Parte do jornalismo brasileiro aproveitou o caso George Floyd para promover pautas identitárias e reforçar o pensamento progressista que impera em muitas redações. De acordo com os portais de notícias, não foi um policial despreparado que ceifou a vida de um cidadão inerme — foi um homem branco que assassinou cruelmente um homem negro

No entanto, não foram apenas as manchetes sobre suposto racismo institucionalizado na cultura dos Estados Unidos que marcaram presença nos meios de comunicação brasileiros. A peste chinesa, que contaminara 1,6 milhão de norte-americanos e matara outros 100 mil até 25 de maio de 2020 — data da morte de George Floyd —, também foi amplamente utilizada por setores da imprensa como instrumento de propaganda ideológica comunista.

As aglomerações do bem

Em 24 de junho de 2020, um mês após as manifestações convocadas pelo movimento de extrema-esquerda norte-americano, o portal UOL publicara em seu site a seguinte matéria: “Protestos do Black Lives Matter não causaram aumento de casos de covid-19”. O jornal digital baseou-se em estudo realizado pela National Bureau of Economic Research, organização especializada em pesquisas.

Segundo os cientistas, os milhares de manifestantes que foram às ruas protestar contra a morte de George Floyd evitaram frequentar ambientes fechados, como bares e restaurantes, onde o risco de propagação do coronavírus é potencialmente maior. Além disso, conforme o relatório, os ativistas usaram máscaras de proteção, de maneira a evitar a disseminação da doença que, até aquele momento, infectara 6,5 milhões de pessoas e matara outras 390 mil ao redor do mundo.

“Nossas descobertas sugerem que qualquer redução direta no distanciamento social entre o subconjunto da população participante dos protestos é mais do que compensada pelo aumento do comportamento do distanciamento social entre outros que podem optar por abrigar-se em casa e contornar locais públicos enquanto os protestos estão em andamento”, argumentam os pesquisadores, que analisaram os dados das manifestações registradas em mais de 300 das maiores cidades dos Estados Unidos.

Salta aos olhos a conclusão do estudo realizado pela National Bureau of Economic Research. Apenas para exercício lógico: a entidade assegura que as aglomerações promovidas pelo Black Lives Matter não aumentaram a incidência de casos de covid-19 nas cidades em que os protestos foram registrados. No entanto, conforme descrito na própria pesquisa, não houve proliferação extensiva da doença malgrado as manifestações, visto que as medidas sanitárias para conter os riscos de contágio foram tomadas por pessoas alheias aos motins.

Ainda, há o argumento segundo o qual os ativistas teriam usado máscaras faciais durante os protestos. Ao analisar a cobertura jornalística sobre o assunto, porém, comprova-se o oposto do que propõe a National Bureau of Economic Research: os manifestantes não usaram, de maneira generalizada, as máscaras que diminuem o risco de transmissão da covid-19. O leitor pode confirmar a veracidade do argumento exposto neste artigo ao consultar as fotos das manifestações publicadas em jornaissites e revistas.

As aglomerações do mal

Onze meses depois dos protestos insuflados pelo Black Lives Matter nos Estados Unidos, outra manifestação de grandes proporções tomou as ruas — mas, desta vez, foram as cidades brasileiras que viraram palcos da revolta popular. No último sábado, 1º, milhares de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro reuniram-se em diferentes capitais do país para protestar em favor das liberdades individuais e do voto auditável. Os cidadãos foram às ruas de Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Belo Horizonte, entre outros Estados e municípios.

Um dia após as manifestações, o portal UOL publicou em seu site a seguinte manchete: “Ato pró-Bolsonaro deve piorar números da covid-19 em SP, diz chefe de comitê”. A afirmação é de Paulo Menezes, considerado um dos homens fortes do governador João Doria na gestão da pandemia do coronavírus. Segundo o médico e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), as aglomerações registradas na Avenida Paulista podem impactar não apenas os índices de contaminação em São Paulo, mas também no Brasil inteiro.

“São milhares de pessoas aglomeradas, muitas delas sem máscara, e são em grande maioria pessoas que não acreditam nas medidas de distanciamento social, não acreditam na gravidade da doença e acreditam em tratamentos ineficazes”, afirma o coordenador do Centro de Contingência ao Coronavírus. “É uma combinação extremamente perigosa. É possível ter um efeito negativo”, acrescenta Menezes, ao argumentar que as manifestações vão contra todas as medidas recomendadas pelas entidades de saúde.

Ressalte-se a mudança de postura adotada pelo jornal digital brasileiro. Para avaliar as possíveis consequências das aglomerações promovidas pelo Black Lives Matter, o portal UOL recorreu à pesquisa produzida pela National Bureau of Economic Research. Contudo, ao analisar os atos pró-Bolsonaro, que reúnem condições similares às observadas nos protestos ocorridos nos Estados Unidos — milhares de pessoas nas ruas, aglomeradas e por vezes sem máscaras faciais —, o portal UOL amparou-se na opinião de Paulo Menezes, que chega a conclusões diametralmente opostas às documentadas pela organização norte-americana de pesquisas. Para a National Bureau of Economic Research, as aglomerações não causam mal algum; para Menezes, todavia, os atos podem piorar o cenário da pandemia.

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