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quarta-feira, 6 de abril de 2022

GUERRA DA UCRÂNIA

Zelensky cobra punição à Rússia e coloca ONU contra a parede

Foto: AFP

Na arena diplomática conhecida por arbitrar a paz ao redor do mundo, um imenso telão mostrou as fotos de cadáveres amarrados, abandonados nas casas e nas ruas de várias cidades ucranianas, ou lançados dentro de covas coletivas. "Vocês estão prontos para fechar a ONU?", questionou o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, em pronunciamento ao vivo exibido durante reunião do Conselho de Segurança da ONU, a partir de Kiev, a mais de 7.500km de Nova York.

Ele denunciou atrocidades cometidas pelas tropas da Rússia contra civis, culpou o governo de Vladimir Putin pelos "piores crimes desde a Segunda Guerra Mundial", exigiu um julgamento internacional e desafiou as Nações Unidas. "Precisamos de decisões do Conselho de Segurança para a paz na Ucrânia", disse Zelensky. "Onde está a segurança que o Conselho de Segurança precisa garantir? Não existe. (...) Se não há alternativa, nem opção, então a próxima escolha seria a sua dissolução por completo."

Hoje, os Estados Unidos, a União Europeia e o G7 — grupo dos sete países mais industrializados — devem anunciar novo pacote de sanções contra a Rússia. Entre as medidas previstas, estão a proibição de todos os novos investimentos em território russo, o reforço das sanções a instituições financeiras de Moscou e a empresas estatais, e sancões contra autoridades do Kremlin e familiares. 

Em um tom duro, Zelensky afirmou que se dirigia aos países-membros do Conselho de Segurança em nome das vítimas e detalhou o suposto massacre ocorrido na cidade de Bucha, a 30km do centro de Kiev. "Eles (civis) foram assassinados em seus apartamentos e casas, explodindo granadas. Foram esmagados por tanques, quando estavam dentro dos carros, na rua, só por prazer. Eles (russos) deceparam membros, cortaram gargantas. Mulheres foram estupradas e mortas na frente dos filhos. Suas línguas foram arrancadas porque os agressores não queriam escutar o que ouviram delas", acrescentou. O líder ucraniano apelou pela exclusão da Rússia do Conselho de Segurança — um dos cinco países-membros com poder de veto — para que Moscou "não bloqueie decisões sobre sua própria guerra". Também defendeu a reforma da entidade. 

Pelo segundo dia consecutivo, a Rússia rejeitou as acusações de Zelensky. "Não fomos à Ucrânia para conquistar territórios", disse Vasili Nebenzia, embaixador de Moscou na ONU, que tornou a denunciar uma conspiração. "Você viu corpos e escutou depoimentos, mas apenas viu o que lhe foi mostrado. Você não pode ignorar as flagrantes inconsistências nas versões dos fatos divulgados pelos meios de comunicação ucranianos e ocidentais." Por sua vez, o chanceler russo, Serguei Lavrov, divulgou mensagem transmitida pelas televisões de seu país em que apontava uma "provocação aberta e falaciosa" para "atrapalhar" as negociações de paz. 

Chefe da Cátedra de Relações Internacionais e diretor da Escola de Análises Políticas da Universidade de Kiev-Mohyla, Maksym Yakovlyev afirmou ao Correio que o discurso de Zelensky na ONU foi "muito poderoso". "Todos agora devemos repensar o papel das Nações Unidas, pois vemos tantos civis serem torturados, estuprados e mortos pelas tropas russas. Ainda assim, a Rússia detém o poder de veto no Conselho de Segurança, enquanto bombardeia a Ucrânia. O que acontece aqui em meu país é puro genocídio. Parece que, no formato atual, a ONU não pode fazer muito. Ela necessita de uma reforma", acrescentou. 

Yakovlyev disse que mais lhe impressionou na fala de Zelensly foi o fato de ele ter se referido aos russos como "criminosos de guerra" e solicitado uma Corte similar aos julgamentos de Nuremberg — alusão aos tribunais que condenaram os oficiais nazistas ao fim da Segunda Guerra Mundial. O especialista ucraniano considera primordial a imposição de mais sanções contra a Rússia.

Ataques
O Exército da Rússia informou ter derrubado dois helicópteros ucranianos que tentavam retirar os chefes do batalhão nacionalista Azov, que participa da defesa do porto de Mariupol (sudeste). Igor Konashenkov, porta-voz do Ministério da Defesa russo, explicou que Moscou ofereceu aos combatentes a deposição de armas e o abandono da cidade. Eles teriam ignorado a proposta. 

Jens Stoltenberg, secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), anunciou que a Rússia avança para "tomar o controle de todo Donbass" — no leste da Ucrânia — e criar uma ponte terrestre com a Península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014. "As tropas russas deixaram a região de Kiev e o norte da Ucrânia. Putin está movendo um grande número de soldados ao leste. Elas vão se rearmar, receber reforços (...) e se reabastecer para lançar nova ofensiva altamente concentrada na região do Donbass."

Relatos do horror
"Os kadyrovtsy (mercenários chechenos) estão em Borodyanka. São piores do que animais. Invadiram um asilo. Há 600 pessoas presas lá, sem eletricidade e sem água — 590 idosos e dez funcionários. Eles (russos e chechenos) sequestravam as pessoas das ruas ou disparavam em tudo o que encontravam pela frente. O pai de um amigo está desaparecido. Ele foi à rua para fumar e sumiu. Não vi como matavam as pessoas, pois estávamos no porão. Mas um homem que esteve conosco viu."

Victoria Vikhorova, 20 anos, estudante de Kiev. Refugiou-se em Borodyanka após ataque à capital ucraniana
"Minha cidade está ocupada há 20 dias pelos russos. Os corredores humanitários entraram em colapso. Alguns de meus conhecidos foram assassinados. As pessoas tiveram que suportar o fio, a fome e a sede, para permanecerem vivas. Os invasores roubaram tudo o que podiam: quebraram portas e arrebentaram as janelas. Soubemos que Tanya, uma sem-teto, salvou oito pessoas que estavam sob cerco dos russos. Ela os abasteceu com água."

Iyna Samoylenko, 20 anos, estudante, morava em Borodyanka. Hoje está em Ivano-Frankivsk
"Campanha deliberada para matar, torturar, estuprar"
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, denunciou uma "campanha deliberada para matar, torturar, estuprar" em Bucha, onde foram encontradas dezenas de cadáveres após a retirada das tropas russas. "O que vimos em Bucha não é um ato isolado. É uma campanha para matar, torturar, estuprar, cometer atrocidades. Isso reforça a nossa determinação de garantir que, de alguma maneira, quem cometeu esses atos preste contas algum dia."


Por: Correio Braziliense

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