SANTA CRUZ - ANALISANDO RETORNO

Nova função, papo com elenco e atual cenário: Zé Teodoro analisa retorno ao Santa Cruz após 10 anos

Ex-treinador soma títulos e acesso pela Cobra Coral. (Foto: Arquivo/DP)

Em entrevista extensa à Rádio Clube de PE, o novo coordenador técnico coral detalhou volta ao Arruda em parceria com Marcelo Martelotte

Uma convocação. É dessa forma que Zé Teodoro encara o retorno ao Santa Cruz após 10 anos. Bicampeão pernambucano consecutivo pelo Tricolor em 2011 e 2012, o ex-treinador ainda soma um acesso à Série C na passagem vitoriosa na área técnica do Arruda. Desde então, os reencontros se tornaram mais raros. Agora, volta ao Tricolor com a uma responsabilidade diferente. Uma nova função, a de coordenador técnico, inédita na carreira do profissional. 

Em longa entrevista ao programa Bola ao Centro, na Rádio Clube de Pernambuco, Zé Teodoro analisou muitos dos componentes dessa volta, que acontece em parceria com o técnico Marcelo Martelotte. Os desafios da dupla no Campeonato Brasileiro da Série D, o peso das dificuldades e os caminhos para superar o momento difícil em que vive o clube foram alguns dos tópicos explanados pelo novo coordenador coral. 

CONVOCAÇÃO' DO SANTA CRUZ

Eu recebi de madrugada, depois das onze e meia, meia noite. Me parece que houve um incidente, que o pessoal não ficou muito satisfeito. Uma situação que poderia até esperar, vinha de uma vitória. Talvez, não sei, as duas partes podem ter se apressado. Podiam ter sentado, se reunido no dia seguinte, conversado. Como aconteceu e a gente foi chamado, eu não podia dizer não para um clube que gosto. Gosto de trabalhar, gosto da torcida e das pessoas. Realmente, há uma divisão política no clube. Mas é um momento de união. Uma coisa tenho certeza: essa torcida não vai abandonar nunca. Foi por isso que vim, também. Quando você faz o certo, é transparente, faz as coisas honestas, eles entendem. E eu fui convocado para isso.

CONDIÇÕES DE TRABALHO 

Pego um clube melhor do que encontrei naquela época. As condições de trabalho estão bem superiores. O único problema é financeiro. É a situação financeira. Mas agora já estou contente. Vi que a torcida tomou providências, que alguns dirigentes se mexeram. Estão resolvendo os problemas. Acho que a gente precisa de resultado. Falei isso para o grupo. Eles não sabem a força que essa torcida tem. Nós só queremos resultado. E para trabalhar aqui, é preciso saber superar as dificuldades. Porque é uma dificuldade que amadurece, faz crescer e alavanca. O Santa Cruz tem uma massa que quando compra briga, enfrenta e ajuda.

PARCERIA COM MARTELOTTE

Já está tudo praticamente resolvido. O Martelotte já colocou o time em campo. É importante que a gente esteja ali, sempre dando respaldo. Sei que vou ajudar muito o Marcelo (Martelotte) nessa hora, os jogadores, a diretoria. Vamos fazer. Com transparência, com seriedade, olhando o lado do clube. Não pode ter vaidade. Nessa hora, tudo que ficou para trás já passou. Não tem quem deixou o clube, quem abandonou, quem não quis enfrentar a situação. A gente vai ver se consegue trazer o respeito. A torcida do Santa Cruz precisa ser respeitada. E as pessoas que dirigem, que estão na gestão do Clube, sabem que a responsabilidade é muito grande. É uma torcida muito grande que precisa dar respostas para ela. Resposta é resultado, sair desse inferno da Série D. Não é um lugar para uma torcida e um time grande, com a marca que tem, estar. O que é de ruim já passou. Para piorar não tem jeito. A tendência é melhorar e nós vamos trabalhar por isso”

PERSPECTIVAS PARA A SÉRIE D 

É uma competição que quem se arrumar, se organizar e tiver um time competitivo, é totalmente diferente da Série B e da Série A. Quem tem recurso, investimento, dinheiro, no trabalho regional e da continuidade. É o que está acontecendo aqui. O time que o treinador Leston JR fez, que o Segurado fez. Tudo isso vamos aproveitar. Estamos conhecendo, estudando, vendo. Conheço a divisão, tivemos o acesso naquela época. Mas o futebol hoje está diferente. Tem que montar time e montar para brigar. Santa Cruz não pode ser diferente. A camisa, o peso, tem que ter imposição, tem que ter atitude. Mas, vamos aguardar. Conhecer o grupo, conhecer o trabalho. Ver o que os jogadores vão nos apresentar. É uma divisão que o importante é ganhar, é vencer. A vida de um treinador, de um coordenador, de um executivo, os resultados que vão dar condição de fazer um bom trabalho. Acho que a gente está no caminho. O Santa Cruz é um clube para brigar. Um bom resultado no domingo vai ser importante demais para o grupo, para o trabalho e já vai nos colocar de vez na briga pela classificação. Estamos recuperando a autoestima dos jogadores. Nesses dois, três dias, até o sábado, acredito que vamos estar na condição de jogar lá e buscar o resultado

NOVA FUNÇÃO

Agora estou praticamente tomando um novo rumo, de entrar nessa parte de coordenação, de gestão. Poder mexer com a parte de transição dos setores, da comissão técnica. Trabalhar esse elo de ligação. Treinador, por agora, prefiro estar de fora. Até me pediram para usar o material. Disse que não. Prefiro estar aqui, vou poder sentar ali, estar lá de cima. Vou poder estar nos treinamentos, conversando com os preparadores, fisiologista, auxiliar técnico. Podendo dar esse suporte. Quando puder dar uma opinião, poder haver uma cobrança, já que vou estar em uma situação diferente. E poder, logicamente, tentar ajudar da melhor forma possível. Mas sem interferência. A minha vida de treinador já passou. Eu quero agora tocar meu caminho no intuito de crescer nessa nova função

DESABAFO DE LESTON JÚNIOR

Já trabalhei em situação pior do que isso. Cheguei no clube, o gramado melhorou, a estrutura melhorou, a alimentação. Não conhecia o CT. A torcida eu sei que é a mesma. Ela abraça a causa. Agora, cada um sabe enfrentar as dificuldades de um jeito. Nunca peguei nada pronto, nada arrumado. Tudo sempre foi começado do zero. Eles tiveram as dificuldades deles. Tenho que reconhecer algumas, principalmente a financeira. O presidente tem 30 e poucos dias que está no cargo, sozinho. Agora, algumas pessoas estão voltando. A torcida entendeu que não pode ficar nessa situação. Ninguém é insubstituível, falo para os jogadores. Precisamos tratar com quem está comprometido a ficar.

Eles (Leston e Segurado) têm as razões deles, que acho que com certeza é difícil trabalhar com toda a situação de salários. Mas acho que é necessário buscar alternativas, tentar blindar, evitar alguns momentos. Agora, é esquecer tudo isso. Acredito que tudo foi feito para melhorar. A intenção, de ter um choque, foi feita. Foi dado. São grandes profissionais. Conheço o Segurado de Goiás, sempre fez grandes trabalhos. O Leston, vem fazendo grandes trabalhos. Eles têm emprego em qualquer lugar. A gente lamenta, porque a tendência era a continuidade do trabalho. Mas o clube precisa tocar, precisa continuar. Nós vamos aproveitar tudo que eles fizeram e valorizar esse trabalho, esse grupo. Talvez, isso foi para fazer muita gente acordar. Nós herdamos uma situação e vamos tentar ajudar. Já fizemos uma vez, vamos tentar novamente.

PRIMEIRO CONTATO COM O ELENCO

Sou de olhar os dois lados. Cada um tem as suas responsabilidades. Um jogador sabe muito bem, e eu vivi isso aí, na época de atleta. Sei que essas situações sempre acontecem. Então, tem que ter habilidade e jogo de cintura. Os jogadores sabem que quando tem resultado, é uma coisa, quando não tem, acontece a cobrança. E quem não quiser cobrança, tem que arranjar um outro emprego. Precisa trabalhar com a pressão. No Santa Cruz é assim. Precisa trabalhar com a dificuldade, tem que saber administrar as necessidades, as faltas.

Nós tivemos muita tranquilidade. Agora, é esperar, aguardar os treinamentos para a gente observar o grupo, cada jogador,  ver o rendimento. Ver as observações que o Martelotte vai fazer. Não vou entrar em detalhes com relação à parte técnica, tática. Vou dar o suporte para ele, poder atender, buscar pessoas que possam ajudar. Passar essa tranquilidade para o grupo e saber superar. Só existe uma forma de superar, que é o resultado. Tendo resultado, vamos conseguir todos os problemas do Santa Cruz.

DP