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quarta-feira, 10 de agosto de 2022

CLAUDIONOR GERMANO - 90 ANOS

Claudionor Germano, a "voz de Capiba", celebra noventa anos de vida

Claudionor Germano, cantor - Foto: Ed Machado/Folha de Pernambuco


Músico completa nesta quarta (10) noventa anos de idade, destes, mais de setenta dedicada ao Frevo



Sob o centro da sala do apartamento onde mora, livros. Biografias de Sinatra e Dolores Duran em meio a romances de Agatha Christie e Gabriel Garcia Márquez. Mais adiante, exemplares das próprias memórias, escritas em livro assinado pelo jornalista e crítico musical José Teles “Claudionor Germano: A Voz do Frevo” (Cepe, 2017) – um registro para celebrar, à época, seis décadas de entrega ao Frevo e ao Carnaval.

Um miniestandarte e uma caricatura sorridente erguendo a sombrinha que simboliza o ritmo mais pernambucano de todos também compunham o ambiente, completado em sua inteireza pelas boas-vindas do anfitrião nonagenário Claudionor Germano da Hora, que em documento oficial completa nesta quarta-feira (10) nove décadas de existência, embora sua data real de nascimento seja de alguns meses atrás, mais precisamente do último 19 de abril – fato que reforça o quão comum era o registro tardio dos nascidos em tempos idos.

“Fico esperando duas vezes, todo ano. Nasci no Dia do Índio”, responde, sorridente, o maior representante das composições de outro maioral do Frevo, Capiba.

"Não tenho do que me queixar"

“Meus filhos já estão programando algumas coisas... tenho sete filhos, doze netos e onze bisnetos. É difícil saber do nome de todos eles, alguns demoro a ver e quando encontro digo um ‘oi’, sem dizer o nome”, segue Claudionor em conversa sobre as celebrações de hoje e sobre a sua própria vida até aqui, aos 90 anos.
“Bendito, bendito, sou um felizardo”, complementa, ainda em menção à família e a sua construção pessoal e profissional. 
“Não tenho do que me queixar, sinto que sou querido pelo povo de minha terra, sinto que há respeito pelo meu trabalho”. Um trabalho, diga-se, que também soma décadas de um acervo que o próprio autor desconhece em números. “Não sei dizer, não tenho em minha cabeça a quantidade de músicas gravadas, mas sei que bati o recorde na fonografia com 132 músicas só de Capiba. Sou o cantor brasileiro que mais gravou o mesmo compositor”. 

E, de fato é, reconhecidamente a partir do final da década de 1950 com o disco “Capiba – 25 Anos de Frevo”, pela Mocambo, com Nelson Ferreira “agarrado também”, como descreveu o próprio Claudionor, que sem hesitar, após um intervalo em silêncio e um respirar fundo, reproduziu em tom de quem acabara de remeter-se a lembranças, o nome do companheiro de vida e de obra: “Lourenço da Fonseca Barbosa”.
Frevo desde sempre
Carnavalesco desde os tempos em que, menino, nas ruas que cortavam o bairro dos Coelhos, na Boa Vista, onde morava, entregava-se à festa, para tempos depois deixar o papel de folião, momento minuciosamente lembrado por ele.
“Comecei a cantar no dia 20 de fevereiro de 1949, minha estreia oficial como cantor lá no Liceu de Artes de Ofício (...) Mas em paralelo com a música, eu tinha outra profissão, era vendedor, precisava pagar minhas despesas”, contou, para em seguida entoar, com orgulho, “São os do Norte que Vem” - música que integrou o Festival Internacional da Canção, em 1969, no Maracanazinho, Rio de Janeiro. “Capiba me levou, ficamos em quinto lugar”, recorda, gaboso.
Memórias que emocionam
Voltando à sala, ambiente que serviu de cenário para o decorrer da prosa parcialmente descrita por aqui, um toca-discos chamou atenção. Apoiado nele, vinis, vários deles, em capas alegres e coloridas que esbanjavam um Claudionor um tanto quanto, alegre e colorido.
“Ele pede para ouvir esses discos antigos?”, indaga, curiosa, esta que subscreve as linhas que se seguem. “Ele pede sim, e ultimamente tem se emocionado”, responde Nonô Germano, músico e herdeiro do legado.
Por falar em emoção... minutos antes, a prosa havia sido encerrada, por óbvio, com Claudionor Germano cantando, a pedido. Ele cantou para si mesmo e escolheu “Resto de Saudade”, de Capiba, é claro. Da saudade de um Carnaval que começa com ‘C’ de Capiba e também de Claudionor, que gostaria de ser lembrado como "o homem que mais amou o Frevo no mundo".

Por Germana Macambira

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