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quinta-feira, 17 de novembro de 2022

BEATIFICAÇÃO

Igreja Católica comemora perspectiva de Dom Helder se tornar ''venerável''

 

Premiado internacionalmente, Dom Helder expressou humildade num momento histórico em que foi abraçado pelo papa João Paulo II (Edvaldo Rodrigues (1980))

O arcebispo de de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido comemora o fato de que Dom Helder Camara está mais perto de ser declarado “venerável”. Essa declaração faz parte do processo de beatificação e canonização do saudoso arcebispo que se tornou conhecido como “Dom da Paz”. A notícia foi anunciada pelo próprio arcebispo, na noite de encerramento do 18º Congresso Eucarístico Nacional, quando foi dado conhecimento do comunicado enviado pelo vice-postulador da causa de canonização de Dom Helder, frei Jociel Gomes, recebido com muitos aplausos pelos participantes.

“Comunico que foi emitido hoje, em Roma, o Decreto de Validade Jurídica do Processo de Dom Helder Camara, reconhecendo que todos os atos e toda documentação feitos na Arquidiocese foram aprovados pelo Dicastério das Causas dos Santos. Doravante, solicitaremos a nomeação de um Relator e iniciaremos a elaboração da Positio, que será, posteriormente, analisada pelas comissões de historiadores, teólogos, bispos e cardeais, a fim de que deem seus pareceres. Com a aprovação destas comissões, o Papa poderá declará-lo ‘Venerável’”, diz o comunicado saudado com aplausos. 

A notícia coroa todo o esforço iniciado com uma missa presidida pelo próprio dom Fernando Saburido, no domingo 3 de maio de 2015, na Igreja Catedral do Santíssimo Salvador do Mundo, em Olinda, com a posse do tribunal responsável pela causa, com a presença do  então arcebispo emérito da Paraíba e amigo do Dom da Paz, dom José Maria Pires. Após a leitura do decreto de constituição do tribunal, foi apresentado o grupo de trabalho composto por cinco membros: juiz delegado e promotor de justiça (ambos canonistas), notário, notário adjunto e cursor.

O objetivo da equipe era analisar os novos textos publicados por Dom Helder e ouvir pessoas que tiveram contato com ele, segundo explicava o postulador da causa de beatificação e canonização, frei Jociel Gomes. Dom José Maria Pires seria a primeira testemunha ouvida pelo tribunal, de uma série de depoimentos aos quais se somariam escritos, mensagens, livros e outros objetos relacionados à vida de Dom Helder.

Uma comissão histórica atuou durante o pedido de abertura do processo, concluído em maio de 2014. Menos de um ano depois, em fevereiro de 2015, a Arquidiocese recebeu o aval da Santa Sé ratificado por meio de carta enviada pelo prefeito da Congregação Causa dos Santos, cardeal dom Angelo Amato.

Na manhã da quarta-feira 19/12/18, a Arquidiocese de Olinda e Recife vivenciou um momento histórico na Cúria Metropolitana, bairro das Graças, Recife, onde ocorreu a  sessão de encerramento do Processo de Beatificação e Canonização de dom Helder Camara, presidida pelo então arcebispo dom Fernando Saburido, acompanhada pelo vice-postulador da causa, o frei Jociel Gomes e da comissão de investigação, formada pelo frei Francisco Fernando, irmã Maria Vanda de Araújo e pelo juiz delegado, Monsenhor João Acioli. Aberta ao público e à Imprensa a  solenidade contou com a presença de amigos, leigos, seguidores, religiosos, movimentos, representantes do Instituto Dom Helder Camara (IDHeC) e membros do clero que tiveram em Dom Helder um profeta inspirador, uma força para seguir sua jornada.

A sessão de encerramento do processo de canonização incluiu a aposição da assinatura do arcebispo dom Fernando Saburido na ata, o lacre das caixas de documentos e a remessa da documentação comprobatória do processo ao Vaticano, concluindo a chamada “fase diocesana” do processo de beatificação e de canonização. Toda a documentação foi remetida para a Congregação da Causa dos Santos, no Vaticano, onde os documentos comprobatórios, laudos, pareceres e testemunhos coletados passam por análise de comissões, para ter início a chamada “fase romana” do processo. O processo continha mais de 1.200 páginas.

Terminada a fase diocesana, o postulador elaborará o “Positio”. Trata-se de um compêndio dos relatos e estudos realizados pela comissão, contendo uma biografia documentada e a apresentação das virtudes teologais e cardeais praticadas pelo servo de Deus. Assim que aprovado, o papa concede o título de Venerável Servo do Senhor. A penúltima etapa é a da beatificação. Ser beato, ou bem-aventurado, significa representar um modelo de vida para a comunidade e, além disso, que essa pessoa tem a capacidade de agir como intermediário entre os cristãos e Deus. Para isso será necessário o reconhecimento de um milagre realizado por intercessão do servo de Deus. Depois, ainda será preciso passar por mais uma fase: a canonização. Para ser proclamado santo é imprescindível a comprovação de outro milagre, que deve ocorrer após sua nomeação como beato.

Perfil do Dom da Paz
Dom Helder Camara nasceu em 7 de fevereiro de 1909, em Fortaleza, e  teve 12 irmãos. Após entrar muito jovem no seminário da capital do Ceará, se tornou padre aos 22 anos. O primeiro momento da vida religiosa de dom Helder foi marcado pela militância junto a instituições políticas conservadoras, como a Ação Integralista Brasileira, entre 1932 e 1937. Mais tarde, o religioso considerou a participação como um erro da juventude. Já radicado no Rio de Janeiro desde 1936, passou a optar por um trabalho assistencialista, quando fundou departamentos da Igreja voltados para atender os mais necessitados.

Após longo período atuando na então capital do Brasil, Dom Helder foi nomeado para o Maranhão. Com a morte do arcebispo de Olinda e Recife, é mandado para Pernambuco, onde desembarcou em 12 de abril de 1964, poucos dias após o golpe militar. Na capital pernambucana, o religioso desembarcou em meio a uma relação conturbada entre Governo do Estado e Igreja.

Dois dias após a posse, Dom Helder lançaria, juntamente com outros 17 bispos nordestinos, um manifesto à Nação, pedindo liberdade das pessoas e da Igreja. O primeiro grande atrito, entretanto, ocorreu em agosto de 1969, quando o arcebispo foi acusado de demagogo e comunista, por ter criticado a situação de miséria dos agricultores do Nordeste.

A partir de então, dom Helder sofreu represálias, inclusive teve sua casa metralhada, assessores presos, e, com assassinato do padre Antônio Henrique, assassinado. Em 1970, quando Dom Helder teve o nome lembrado para o Prêmio Nobel da Paz, o governo brasileiro promoveu uma campanha internacional para derrubar a indicação, porque ele denunciava a prática de tortura a presos políticos no Brasil. Também em 1970, os militares chegaram a proibir a imprensa de mencionar o nome do arcebispo de Recife e Olinda.

Dom Helder comandou a Arquidiocese de Olinda e Recife até o dia 10 de abril de 1985, quando, por atingir a idade limite de 75 anos, foi substituído pelo arcebispo dom José Cardoso Sobrinho. O Dom da Paz morreu em sua casa, no Recife, em 27 de agosto de 1999, devido a uma insuficiência respiratória decorrente de pneumonia. Seus restos mortais estão sepultados na Igreja Catedral Santíssimo Salvador do Mundo, em Olinda.

Pelo seu trabalho em defesa dos direitos humanos, Dom Helder recebeu vários prêmios internacionais, como Martin Luther King, nos Estados Unidos, 1970, e o Prêmio Popular da Paz, na Noruega, 1974.  O religioso é autor de 22 livros, a maioria ensaios e reflexões sobre o terceiro mundo e a Igreja.


*Com informações da Arquidiocese de Olinda e Recife.

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