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segunda-feira, 21 de novembro de 2022

SANTA CRUZ - CONSCIÊNCIA NEGRA

Tricolor, mas predominante preto: a importância de Lacraia e do Santa Cruz na inserção do negro no futebol

Coube ao bisneto de Lacraia contar a história de seu bisavô (Foto: Thaylinne Barret/ESP. DP Foto)


No Dia da Consciência Negra, o Esportes DP mergulha na história do maior ícone da luta por igualdade racial no futebol pernambucano


O preto está eternizado como a cor mais latente da história do Santa Cruz, desde suas entranhas aos dias atuais. E não por acaso. Quando nasceu, em 1914, trouxe consigo um manifesto por igualdade racial. O baluarte dessa luta contra o racismo tem nome, sobrenomes e apelido: Teófilo Baptista de Carvalho, mais conhecido como Lacraia. Ele foi um dos fundadores do clube, chamando atenção nas fotos antigas misturado a todos os outros brancos, numa classe - à época - tão elitista.

 Para mergulhar na história de Lacraia, numa verdadeira viagem nas areias do tempo -, entrevistou seu bisneto, Gil Baptista Bacelar Neto, no palco onde seu bisavô não atuou, mas viu se erguer, o estádio do Arruda. Vindo três gerações depois, Gil não tem a mesma cor de seus antepassados, mas se orgulha do sangue que possui nas veias.

 "Eu costumo dizer que eu sou um branco de alma preta. Porque é uma honra muito grande ter na família um negro, que fundou o Santa Cruz e foi tão importante nessa questão. Na nossa família nunca houve nenhum tipo de distinção quanto a cor, somos todos iguais. Desde pequeno a gente aprendeu isso, todo mundo sabe.” 
<i>(Foto: Thaylinne Barret/ESP. DP Foto)</i>

Mesmo sem ter conhecido o bisavô pessoalmente, guarda na memória todas as histórias contadas pelo pai, Gil Baptista Bacelar Filho. Num dos diálogos relembrados, lhe vem à mente talvez a maior mágoa da vida de Lacraia. Por um viés cruel do destino, o ídolo não compareceu para assinar a ata de fundação, já que estava prestando vestibular na mesma data e hora.

"Ele lamentava muito não poder assinar a ata, acho que o clube até poderia mudar isso em nome da história. Meu pai sempre falava dele com muito orgulho. Quando Lacraia recebeu homenagem no centenário do Santa e meu pai estava lá, foi um dia muito alegre para ele e para todos da família", relembra de seu genitor, hoje já falecido. 

Não há nenhum registro oficial sobre o falecimento de Lacraia e nem alguém da família vivo capaz de cravar, mas algumas informações dão conta que óbito ocorreu em 1975. Em campo, ele não conquistou nenhum título pelo Santa, mas teve representatividade de sobra, seja como jogador ou treinador. Além das quatro linhas, é lenda. O único a imprimir marcas indeléveis na história coral: a da inclusão racial e da identidade visual.
<i>(Foto: Reprodução/Santa Cruz)</i>
 Vale destacar, também, que Lacraia foi responsável por desenhar o escudo do Santa Cruz. A mudança veio após perda de um sorteio para o Flamengo-PE, também alvinegro. Segundo regulamento da extinta Liga Sportiva Pernambucana, o Estadual não poderia ter duas equipes de cores iguais. Assim, com pinceladas de Lacraia, nasceu o tricolor em preto, branco e vermelho. Depois de pendurar as chuteiras, foi por muitos anos superintendente do um dos maiores bancos do país. 
<i>(Foto: Arquivo pessoal)</i>
 
Os primórdios
 
O futebol brasileiro deu seus primeiros passos numa escancarada desigualdade racial. Em 1921, o então presidente Epitácio Pessoa sugeriu que fossem convocados apenas jogadores brancos para a disputa do Sul-Americano daquele ano. Atualmente, entretanto, é evidente o reconhecimento do negro no desenvolvimento do esporte. O melhor de todos os tempos: Pelé, eleito o atleta do século 20. Além dele, tantos outros se destacaram, como Didi, Jairzinho, Romário e Ronaldinho Gaúcho, só para ficar numa lista com campeõesdo mundo.

Segundo dados do Observatório do Racismo, a primeira equipe a utilizar um atleta de cor escura foi a Ponte Preta. O time campineiro, em 1900, teve entre seus fundadores Miguel do Carmo, considerado o primeiro negro a atuar dentro das quatro linhas no país.
 
Desde 2003, é celebrado oficialmente em 20 de novembro o Dia da Consciência Negra numa alusão à morte de Zumbi, chefe do Quilombo dos Palmares. 
 
Outros clubes que ajudaram na inserção do negro no futebol 
 
Ponte Preta: Fundada em 1900, o clube campineiro teve o primeiro atleta negro da história, Miguel do Carmo, que foi um de seus fundadores;

Bangu-RJ: O alvirrubro carioca também foi um dos pioneiros quando, em 1905, escalou o operário Francisco Carregal; anos mais tarde, o Bangu sofreria represálias;

Internacional: No Sul, o Inter foi o primeiro a utilizar um atleta negro, em 1920. O ponta-direita Dirceu Alves fazia história com a camisa colorada;

Vasco-RJ: Em 1921, o Cruzmaltino foi impedido pela federação de disputar campeonatos estaduais. Em resposta, escreveu uma carta a favor da igualdade racial, cultura que ostenta até os dias de hoje. 

DP

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