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quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

AMOR HISTÓRICO

Turista que morreu no Recife e marido foram um dos primeiros casais gays a casar na Alemanha

Wolfgang e Werner no seu casamento, em 2001 - Foto: Acervo pessoal


Em 2011, os dois foram personagens de matéria sobre os 10 anos da aprovação da lei que reconhecia uniões homoafetivas no país europeu



Werner Duysen, alemão de 81 anos, morreu no Recife, nesta quarta-feira (14), vítima de latrocínio (roubo seguido de morte). O crime ocorreu no Pátio do Carmo, no bairro de Santo Antônio, no Centro da Cidade, local muito procurado não só por turistas, mas principalmente pela população local, que encontra, nos arredores, tudo o que é necessário para decorar a casa no fim de ano e também as roupas para a ocasião especial. 

É lá, também, onde fica a Basílica do Carmo, ponto de encontro de muitos fiéis de todo o Brasil, mas também do mundo, dada a sua importância histórica e arquitetônica, uma construção que começou a ser feita nos anos 1600 e foi finalizada no século seguinte. Seu estilo barroco e sua torre, a maior dessa escola, com 50 metros, são atrativos para os católicos e apreciadores de história. 

Werner e Wolfgang em viagemWerner e Wolfgang em viagem | Foto: Reprodução Instagram 

Werner havia acabado de desembarcar no Porto do Recife, de um cruzeiro que rodava o Nordeste do Brasil, com o marido, Wolfgang Duysen, de 79 anos. Eles estavam juntos há quase 50 anos e foram um dos primeiros casais homossexuais da Alemanha a ter o casamento reconhecido por lei. 

O curto trajeto que os dois fizeram entre o Terminal Marítimo de Passageiros e a Basílica do Carmo dá conta de muitos elementos que compõem o cartão postal do Recife: o rio, as pontes e o movimento. 

Pátio do Carmo, no centro do RecifePátio do Carmo, no Centro do Recife | Júnior Soares/Folha de Pernambuco

Foi na altura da Basílica que o casal foi abordado por assaltantes, que pediram os óculos e os celulares dos turistas. 

A informação inicial era que Werner teria sido agredido com uma arma branca, o que foi retificado por diligências complementares que apontaram: assustado, o alemão caiu e sofreu uma pancada na cabeça durante o assalto. Foi, então, levado a um hospital da Cidade, onde faleceu. 

Apenas um suspeito, de 27 anos, foi identificado e preso na terça (13). 

A delegada Polyanne Farias, titular da Diretoria Integrada Especializada (Diresp) da Polícia Civil de Pernambuco, está à frente das investigações. Segundo ela, quatro pessoas participaram da investida criminosa. Três, portanto, seguem foragidas, e a polícia continua nas buscas. "Eles têm uma maneira comum de agir: cercam as vítimas e já intimidam e ameaçam, se utilizam da violência física", explicou. 

Wolfgang foi ouvido e deve seguir participando da investigação policial. 

Um amor para a história
Uma história de dor como esta é difícil de imaginar, mais ainda de aceitar. A união de meio século foi destaque, em 2011, de uma matéria do site DW, do jornalista Mathias Bölinger, sobre os 10 anos da lei da união civil que permitiu a casais do mesmo sexo terem seus relacionamentos oficialmente reconhecidos pelo Estado alemão.

Werner e Wolfgang haviam sido, em 2001,um dos primeiros casais gays a oficializar o relacionamento no país europeu. 

Na entrevista, Wolfgang lembra da troca das alianças: "Estávamos bastante nervosos, mas acho que nossa registradora estava ainda mais nervosa. Foi a primeira cerimônia que ela fez e ela não tinha permissão para usar a palavra ‘casamento’ [...] Foi muito engraçado, porém, quando ela deixou escapar a palavra durante a cerimônia e todos nós rimos”, contou.

Wolfgang e Werner em Veneza, em 1973, e no seu casamento, em 2001 | Fotos: acervo pessoal/reprodução DW

Uma foto do casal em Veneza, na Itália, em 1973, revela, na matéria, o gosto dos dois por viagens. 

E mais: rostos de duas pessoas apaixonadas que jamais imaginariam poder viver um casamento reconhecido por lei. Somente em sonho, que virou realidade quase 30 anos depois daquela fotografia tirada na cidade italiana. 

Era tão inimaginável poder casar com uma pessoa do mesmo sexo que Werner, no trabalho, era obrigado a chamar o companheiro, ao telefone, por um nome feminino. "Eu trabalhava com recursos humanos em uma seguradora e, toda vez que Wolfgang me ligava, eu tinha de fingir que o nome dele era Sabine", lembrou.

O fim de um sonho
Não deveria ser permitido um amor desses ser interrompido de uma forma tão cruel. 

Werner e Wolfgang entraram para a história não somente da Alemanha, mas do mundo e de toda a comunidade LGBTQIA+, que, sem dúvida, os agradece por nunca terem desistido de viver este sonho. Um sonho que acabou no Recife.

Por Gabriella Autran

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