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sábado, 17 de dezembro de 2022

PATRIMÔNIO

Mural "Batalha dos Guararapes", de Francisco Brennand, é transferido para Boa Viagem

Mural de Brennand pode ser visto na rua Antônio Falcão, em Boa Viagem                                                                                                                                                                             - Foto: Melissa Fernandes/Folha de Pernambuco


Obra foi retirado do Centro do Recife, onde passava por avançado processo de deterioração, e restaurado



Antes localizado na região central do Recife, o mural “Batalha dos Guararapes” está agora um novo local. Após anos de degradação no antigo endereço, a obra do artista plástico Francisco Brennand passa a compor a fachada da agência Select do banco Santander na rua Antônio Falcão, em Boa Viagem. 

A reinauguração oficial será nesta segunda-feira (19), às 19h, em evento com a presença de familiares de Brennand e autoridades locais. A ocasião marca ainda os três anos de morte do artista. Quem tem passado pela frente da agência bancária nos últimos dias, no entanto, já pôde conferir o resultado de um minucioso trabalho de restauro e transferência da obra. 

Criado entre 1961 e 1962, o mural estava originalmente instalado na fachada lateral de um prédio localizado na rua das Flores, no bairro de Santo Antônio, onde vinha sofrendo um processo acelerado de deterioração nos últimos anos.

“Ela (a obra) estava bastante exposta, sem nenhuma proteção. Os camelôs penduravam cartazes, pregavam papéis com propagandas, havia muitas peças pichadas, outras já rompidas e o pior: as três últimas fiadas, próximas ao piso, estavam quase desaparecidas, pela ação dos sais e da acidez causados, principalmente, pela urina”, revela Pérside Omena, restauradora conservadora responsável pelo resgate do painel.

Processo de restauro
Uma equipe de 18 profissionais trabalhou, ao longo de um ano, na revitalização e reacomodação do mural. Primeiramente, eles trataram de documentar as peças e identificar os danos causados até então na obra. Para que as 729 pedras de cerâmica fossem removidas sem qualquer novo prejuízo, o grupo chegou a criar um equipamento exclusivo.

Mural 'Batalha dos Guararapes', de Francisco BrennandMural no bairro de Santo Antônio (Foto: Léo Motta/Acervo Folha de Pernambuco)

“As peças foram originalmente assentadas em um cimento praticamente puro. Conseguimos criar uma máquina que cortar a argamassa por trás desse cimento e, depois, ele foi removido já na bancada de trabalho”, comenta a restauradora.

Após a remoção, as cerâmicas passaram por limpeza, recuperando a sua coloração original. Durante essa etapa, a equipe conseguiu encontrar todo o mapeamento original do artista no verso das peças. “Também encontramos, escrita na parte de trás de uma das pedras, toda a técnica utilizada por Brennand. É muito interessante a preocupação do artista em deixar documentado tudo o que ele realizou”, observa. 

Em nossa casa
No novo local, o mural ganhou uma placa com um resumo da biografia de Brennand e um QR Code que dá acesso ao público às informações sobre o restauro da obra. Na parte de trás do muro, foi instalado um painel contendo uma linha do tempo da vida do artista. 

Para que o mural não sofra com atos de vandalismo também no endereço atual, algumas medidas de segurança foram adotadas pelo banco. Uma delas é a iluminação do local durante todo o período da noite. Além disso, câmeras de segurança vigiam a obra ininterruptamente. 

A “Batalha dos Guararapes” possui 2,20 metros de altura e 32,11 de comprimento. Executado por encomenda do extinto Banco da Lavoura de Minas Gerais, ela retrata a expulsão dos holandeses do território pernambucano. Tombada pelo Governo do Estado, a obra pertence ao banco Santander. 

Retirada foi contestada
Em setembro do ano passado, a transferência do mural - que visa evitar o seu desgaste - foi aprovada pelo Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural (CEPPC). A decisão chegou a ser contestada por instituições como o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco (CAU-PE), mas o processo seguiu. 

O decreto estadual de nº 36.249, de 17 de fevereiro de 2011, no qual a resolução do conselho de baseia, permite a remoção de um bem tombado “na hipótese de fundamentada necessidade inadiável”, mas orienta que o ele retorne ao seu local de origem, uma vez cessada a causa que originou a sua transferência.

“A forma como as peças foram realocadas, sendo fixadas em placas independentes, torna bem mais fácil uma futura remoção, sem prejuízos à obra. Sabemos que as cidades mudam. Então, o mural pode ir para onde a gente quiser. Ele só não deixará de estar no Recife e com fruição pública para que as pessoas possam admirá-lo”, garante Bibiana Berg, superintendente executiva de cultura, eventos e patrocínios do Santander.

Por Daniel Medeiros

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