'Aprende, Flamengo': Há 44 anos, o Santa Cruz vencia o Al Hilal na excursão do Fita Azul
Santa Cruz realizou dez partidas no Golfo Pérsico, em 1979 (Foto: Arquivo Pessoal/Alfredo Santos)
Dos 12 jogos de invencibilidade, o Tricolor disputou dez em países árabes como Kuwait, Bahrein, Catar, Emirados Árabes e Arábia Saudita
Neste sábado, às 16h, o Mundial de Clubes da FIFA será decidido entre Real Madrid e o Al Hilal, da Arábia Saudita, equipe que venceu o Flamengo no começo da semana, com uma vitória incontestável por 3 a 2. Eliminação que trouxe frustração ao futebol brasileiro, mas que evidencia uma nítida evolução dos times árabes, num processo de investimento que vem de longa data. Há 44 anos, o Al Hilal se rendeu ao Santa Cruz, em um dos episódios da épica jornada coral de 12 jogos invictos na excursão que rendeu o título de Fita Azul.
Aconteceu em 22 de março de 1979. O Santa Cruz decidiu realizar uma viagem internacional que teve início no Golfo Pérsico e terminaria na Europa. O jogo com o El-Helal, adaptação linguística usada à época pelo Diario de Pernambuco, era o 10º e último no ‘mundo árabe’. Desde aquela época o clube já recebia o investimento dos petrodólares, pouco depois em que o mercado local se recuperaria da crise, triplicando o valor do barril do petróleo na década em questão.
O Al-Hilal tinha o tricampeão mundial Zagallo como treinador, além do ‘Patada Atômica’ Rivelino, que só não jogou porque estava suspenso por um mês. O time liderava o campeonato nacional da Arábia Saudita, porém, não foi páreo diante do Tricolor, que venceu a peleja por 3 a 0. “Dinheiro não é problema aqui”, declarava Zagallo.
“Eu era um jogador que não ficava parado na zaga. Ia embora atacar, porque sabia jogar e Givanildo, como não era muito de subir, dizia ‘Vai, Alfredo, que eu fico’. Então eu armava e desarmava, pegava a bola e saía driblando, para ir e voltar. E se abrisse espaço depois do meio do campo, chutava mesmo. Dava no meio da bola e ela saía em zigue-zague. Treinava muito para isso e assim fazia meus gols”, relembra o ex-zagueiro coral, que hoje atua como fisioterapeuta do Santa Cruz, aos 68 anos.
Apesar do resultado, o ‘El-Helal’ também teve suas ações de perigo, sobretudo no segundo tempo, dando trabalho ao goleiro Joel Mendes. Mas para o ‘Velho Lobo’, o resultado de 3 a 0 serviu como um alívio, uma vez que temia por um placar bem mais elástico, como contou à Rádio Clube, em 1979, elogiando os craques tricolores.
“Givanildo centralizou todas as jogadas e era humanamente impossível meu time ultrapassar esse obstáculo”, descrevia Zagallo, antes de apontar Carlos Alberto Barbosa. “Esse moço está a nível de Seleção Brasileira. Gosto do tipo que ele se apresenta. Toca bem a bola, se manda para o ataque, e ainda sabe marcar com grande entusiasmo.”
“Quando chegamos no Recife, teve muita festa no aeroporto. E na minha cidade de barreiros, quando fui visitar a família, até chegar em casa foi uma briga, porque era todo mundo querendo falar comigo. Eu era bastante jovem ainda, mas foi uma recepção muito boa”, relembra Alfredo Santos.
A volta do zagueiro para casa, porém, por pouco não foi adiada. Conta Alfredo que o Paris Saint Germain teria demonstrado interesse na sua contratação após o amistoso entre as equipes. “O empresário que nos levou para a viagem disse que o PSG mandou chamar a gente. Eles ficaram entusiasmados, porque mesmo sendo magro eu tinha um bom preparo físico e uma boa impulsão. Não fiquei por causa do tamanho, mas foi muito bom saber que eles gostaram do que a gente mostrou naquela viagem. Agradeço por tudo isso que vivi ao futebol”, relatou Alfredo Santos.
Futebol no sangue
Na sabedoria popular, há um ditado que diz “quem vem aos seus não degenera”. E hoje, os passos de Alfredo Santos no futebol são seguidos pelo neto André Lucas, de 10 anos. Também nascido e criado em Barreiros, na terra do avô, André atua pela Seleção Brasileira de Futebol Sete, nas categorias sub 12 e sub 10.
Depois de formar dupla de zaga com Levir Culpi, Lula Pereira, Paranhos, Paulo Barroco, entre outros craques, hoje a parceria de Alfredo é com o neto, ao qual dá conselhos e direcionamentos no futebol, sem perder o melhor da infância.
“Acompanho os passos do meu neto no infantil, vendo na TV ele jogar pela Copa América. Só tem dez anos, mas já é habilidoso. Diferente do avô, joga como atacante e é canhoto. Mas gosta de jogar mesmo é pela direita, para fazer gol. Ver ele jogar pela seleção brasileira é uma alegria imensa”, festeja Alfredo.
FICHA DO JOGO
El-Helal (Al Hilal) 0
Yussen; Gazer, Pcher, Rossen e Sultan; Honda, Hama e Farret; Liman, Samyr e Farrut (Cherp). Técnico: Zagallo.
Santa Cruz 3
Joel Mendes; Carlos Barbosa (Vassil), Paranhos, Alfredo Santos e Pedrinho; Givanildo, Carlos Roberto (Wolnei) e Betinho; Jadir, Neinha e Joãozinho. Técnico: Evaristo de Macedo.
Local: Riad, na Arábia Saudita
Público: 35 mil pagantes
Renda: U$ 80 mil (dólares)
Sequência de jogos do Santa Cruz na excursão de 1979
01/03, Kuwait: Santa Cruz 5 x 1 Seleção do Kuwait
06/03, Kuwait: Santa Cruz 1 x 1 Seleção do Kuwait
08/03, Bahrein: Santa Cruz 3 x 0 Seleção do Bahrein
11/03, Catar: Santa Cruz 4 x 0 Seleção do Catar
13/03, Catar: Santa Cruz 4 x 1 Seleção do Catar
14/03, EAU: Santa Cruz 2 x 1 Seleção de Dubai
17/03, EAU: Santa Cruz 3 x 0 Seleção de Abu Dhabi
18/03, EAU: Santa Cruz 3 x 0 Al Ain
20/03, EAU: Santa Cruz 6 x 2 Nasser Sport Club
22/03, Árabia Saudita: Santa Cruz 3 x 0 Al-Hilal
30/03, Romênia: Santa Cruz 4 x 2 Seleção da Romênia
01/04, França: Santa Cruz 2 x 2 Paris Saint-Germain
DP
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