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quarta-feira, 8 de março de 2023

MULHERES NA CIÊNCIA PERNAMBUCANA

Dia Internacional da Mulher: as mulheres da ciência em Pernambuco

Virginia Maria Barros de Lorena, biomédica e Pesquisadora em Saúde Pública no Instituto Aggeu Magalhães (IAM)/Fiocruz (Foto: Taylinne Barret/DP Foto)


O Dia Internacional da Mulher, celebrado sempre em 8 de março, traz à tona, ano após ano, as demandas de protagonismo feminino, que, apesar dos desafios ainda visíveis, torna-se cada vez maior. Na ciência, tão exaltada nos últimos anos pandêmicos, a situação é a mesma. Para a Organização das Nações Unidas (ONU), em relatório na Assembleia-geral deste ano, mais mulheres na ciência representa melhores resultados, já que elas trazem mais pluralidade à investigação, novas perspectivas. Virginia Maria Barros Lorena é prova disso. 

A biomédica desenvolve pesquisas com foco em imunologia celular. Atualmente, ocupa o cargo de pesquisadora em Saúde Pública no Instituto Aggeu Magalhães (IAM)/Fiocruz, dentro do campus da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), sendo a coordenadora do Serviço de Referência no Diagnóstico da doença de Chagas. Ela e seu grupo oferecem diagnósticos precisos quando o hospital não consegue identificar.

“Durante a carreira acadêmica, tive a grande oportunidade de trabalhar com a doença de Chagas, uma doença negligenciada. Hoje tenho colaborações com outros pesquisadores estudando a resposta imune de leishmanioses, HIV, Tuberculose e Covid-19”, afirmou a cientista. “Nossas contribuições principais são apoiar o SUS através da realização de diagnóstico de alta complexidade para a população. Nosso grupo desenvolveu uma ferramenta molecular que foi utilizada durante o surto de doença de Chagas aguda de Ibimirim, em 2019, e que hoje disponibilizamos ao Lacen-PE.” 

Para a pesquisadora, o tempo dedicado ao trabalho científico é considerável, tirando momentos que poderiam pertencer a interações familiares. “Nós mulheres nos culpamos por não dar tanta atenção aos filhos, principalmente quando são pequenos. Ficamos divididas entre a carreira e a família, porque precisamos nos dedicar. Em casa temos os filhos, no laboratório temos nossos alunos. Então vivemos com o nosso tempo e nosso coração divididos”, explicou. 

Virgínia lembrou ainda que as condições da ciência brasileira são difíceis se comparadas com as de outros países. “Há poucas instituições disponíveis. Nós mulheres enfrentamos dificuldades ainda maiores de inserção em algumas áreas das ciências, que são historicamente realizadas por homens”, declarou. 

Nara Pavão, por sua vez, é pós-doutora em Ciência Política e professora-assistente do Departamento de Ciência Política da UFPE. Ela tem como linha de pesquisa o comportamento político e política comparada. Ela contou à reportagem que, desde criança, possui interesse por esse campo de estudo. E que adorava acompanhar as discussões que ocorriam na escola e na família e sempre ficava fascinada ao observar como os temas políticos estimulavam as pessoas, principalmente seu pai, figura que, segundo Nara, mais a influenciou. “Entrei no curso de Ciências Sociais da UFPE e me encantei rapidamente. Combinava os meus interesses em pesquisa científica com os fenômenos políticos”, comentou. 
 
Nara Pavão, pós-doutora em Ciência Política e professora-assistente do Departamento de Ciência Política da UFPE (Foto: Taylinne Barret/DP Foto)



A cientista política conduz também métodos experimentais e projetos de pesquisa relacionados a notícias falsas (as chamadas “fake News”), opinião pública e corrupção. “Mesmo ainda sendo pouco, experimentos randomizados controlados possuem potencial de produzir um entendimento mais rigoroso sobre causas e efeitos de fenômenos políticos”, explicou. 

“A garantia dessas condições é ainda mais crucial para as mulheres, que são minoria nesses espaços e já enfrentam o imenso desafio de romper com padrões historicamente construídos, que as direcionam naturalmente para os ambientes domésticos e as afastam dos espaços públicos de produção do conhecimento. Como mulher, sinto uma necessidade muito grande de me distanciar dos espaços domésticos e de todas as demandas e atribuições que recaem desproporcionalmente mais sobre as mulheres nesses ambientes. Quero poder contar com condições de trabalho que promovam a minha produção científica”, reforçou.

A cientista disse considerar que, assim como no passado, há uma minoria socialmente dominante no ramo. “Meu próprio exemplo confirma esse cenário de exclusão: meu pai é cientista e Professor Titular do Departamento de Química Fundamental da UFPE. Ele obteve o título de doutor ainda na década de 1970. Não tenho dúvida de que a minha trajetória acadêmica foi facilitada pelo fato de tê-lo como inspiração e apoiador. Além disso, uma formação acadêmica sólida exige muita dedicação e possui custos altíssimos.”
 
AS ANTECESSORAS  
 
Maria Laura Mouzinho Leite Lopes, primeira mulher a se doutorar em Matemática no Brasil (Foto: Reprodução)
Maria Laura Mouzinho Leite Lopes, primeira mulher a se doutorar em Matemática no Brasil (Foto: Reprodução)

As pioneiras da Ciência no estado vieram somente 24 anos após a formação do primeiro Engenheiro Agrônomo. O primeiro nome desta lista é o da primeira mulher a se doutorar em Matemática no Brasil, Maria Laura Mouzinho Leite Lopes. Ela iniciou o curso do Magistério na Escola Normal de Pernambuco em 1932 e teve como mentor de Matemática, o professor Luiz de Barros Freire. Em 1941, aos 24 anos, formou-se em Bacharel em Matemática e no ano seguinte concluiu o curso de Licenciatura na mesma área. Maria Laura participou da criação do Conselho Nacional de Pesquisa, atual Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e tornou-se integrante Titular na Academia Brasileira de Ciência (ABC), sendo a primeira brasileira a entrar para a entidade. Com vários artigos e livros publicados, ela manteve a Educação Matemática brasileira como um referencial para professores do mundo todo.  
 
Therezinha Lins de Albuquerque, pedagoga pernambucana reconhecida por destacar a importância da psicologia no âmbito escolar. (Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução)
Therezinha Lins de Albuquerque, pedagoga pernambucana reconhecida por destacar a importância da psicologia no âmbito escolar. (Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução)

O segundo nome é o de Therezinha Lins de Albuquerque, pedagoga pernambucana reconhecida por enfatizar a importância da psicologia no âmbito escolar. Ela teve seu primeiro contato com a área durante sua formação em Pedagogia, concluída em 1949, mas começou a participar efetivamente somente em 1951. Albuquerque atuou no Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), órgão do Ministério da Educação, no qual organizou e dirigiu, entre 1955 e 1967, o Serviço de Orientação Psicopedagógica (SOPP), uma escola experimental, fundada por Anísio Teixeira, baseada nos princípios de Dewey e de Claparède e na qual era importante a individualização do aluno. O trabalho de Albuquerque se destacou por ser o primeiro passo na direção de uma atuação psicoterápica pelos psicólogos. Ela também foi relevante no processo de constituição dos Conselhos Federal e Regionais de Psicologia no Brasil – órgãos de fiscalização técnica e ética do exercício profissional dos psicólogos.
 
Anita Aline Albuquerque Costa, professora que atuou firmemente na construção dos direitos sociais  (Foto: Reprodução )
Anita Aline Albuquerque Costa, professora que atuou firmemente na construção dos direitos sociais (Foto: Reprodução )

O último nome desta lista é o de Anita Aline Albuquerque Costa. Formou-se em Serviço Social pela Escola de Serviço Social de Pernambuco, em 1962. A sua dedicação trouxe a criação e consolidação do primeiro grupo de pesquisa em serviço social da UFPE – o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Políticas Sociais e Direitos Sociais (NEPPS). Seu legado focou na criação de um conhecimento crítico, voltado à construção de direitos sociais e na consolidação de um serviço social voltado às necessidades sociais em Pernambuco.

Essas mulheres puderam criar oportunidades para a participação feminina no espaço fechado masculino dessas áreas. Seus ingressos, inicialmente, aconteceram atravessados pelo poder da dominação, que mulheres e homens aprendem desde muito cedo a ocupar e/ou a reconhecer em seus lugares na sociedade.

Por: Eduarda Oliveira

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