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quarta-feira, 8 de março de 2023

PRECONCEITO NO TRÂNSITO

Cada vez mais presentes no trânsito, condutoras ainda enfrentam preconceito e assédio

Em Pernambuco, 662.832 dos habilitados são mulheres, o que corresponde a 27,5%                                                                                                                                                                                                      do total de condutores - Getty Images/iStockphoto

De acordo com relatório da CTTU, em Pernambuco, as mulheres são menos propensas a infrações e acidentes


Em 1932, Maria José Pereira Barbosa Lima e Rosa Helena Schorling tornaram-se as primeiras mulheres a conseguirem habilitação para dirigir no Brasil. De lá pra cá, o gênero feminino vem ganhando cada vez mais destaque dentro deste segmento. Porém, apesar do número de habilitadas crescer com o passar dos anos, ainda está longe de se equiparar com a quantidade de homens condutores.

Em Pernambuco, por exemplo, das 2.413,84 de pessoas com habilitação, 1.751,013 são homens e apenas 662.832 são mulheres. Isso corresponde a 72,5% e 27,5% do total de condutores, respectivamente.

Apesar da presença bem mais expressiva do público masculino no trânsito, equiparando os números, eles ainda cometem muito mais infrações e sofrem acidentes. De acordo com o último relatório de segurança viária da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU), os homens correspondem a 87,5% das vítimas fatais nos dados de sinistro de trânsito, contra 12,5% de mulheres.

Os números indicam que homens têm maior propensão ao desrespeito às leis de trânsito e que existe, também, um número maior de homens utilizando motocicleta, que é o veículo mais envolvido em sinistros (29% dos casos de acidente fatal no trânsito envolvem motocicletas e 12% carro).

Segundo o psicólogo Luan Arruda, a questão da diferença do gênero no trânsito pode ser avaliada a partir da infância, onde, via de regra, brinquedos como carro são direcionados para os meninos, o que, no futuro, acaba gerando um preconceito por parte dos homens e receio das mulheres em sofrerem preconceito, além do assédio.

“Quem nunca ao longo da vida escutou falas como ‘só podia ser mulher', ‘essa mulher comprou a carteira?'. São situações e discursos que foram se edificando e estruturando o cerne da nossa sociedade, que representam muitas vezes violações, e que, de alguma forma, vão impactando aspectos emocionais nas mulheres, como por exemplo: segurança, motivação e autoestima”, explica Luan, que ainda aponta um preconceito sobre a fragilidade das mulheres no trânsito que já não se sustenta na sociedade atual. 

A assistente de administração Carolinne Lima, 33 anos, conta que sofre diariamente preconceito ou assédio por parte dos homens enquanto dirige. “Uma vez, por exemplo, estava em uma rua movimentada e tinha uma vaga apertada, mas que conseguia colocar. Fiz as manobras e, quando desci do carro, tinham vários homens olhando, batendo palmas e dizendo ‘que eu dirigia bem, igual a homem’. Fiquei bem chateada. Também tem situações que a gente leva cantadas e assobios importunos, o que nos deixa bastante constrangidas”, conta.

Desde o ano passado, a CTTU trabalha com o guia antimachismo batizado de  "Como não ser um babaca no trânsito", que aborda situações de machismo na mobilidade como uma ação educativa para combater esse tipo de postura. Nele, estão contidas frases como “Machista é quem vai dizer que mulher não combina com direção”, “Babaca no volante,perigo constante! Não seja esse cara, respeite as  mulheres!”, “Ela já tem CNH! Ela está na direção, então para de dar pitaco e não atrapalhe!” e “Pare de se vacilão! Levantar a viseira é infração. Assobiar pra elas é assédio!”.

Segundo Taciana Ferreira, presidente da CTTU, tem-se uma impressão errada de que a mulher não é para o trânsito, entretanto é cada vez mais sabido que a mulher tem capacidade para estar onde ela quiser.

“Não existe nenhum dado que fale sobre um maior perigo no que diz respeito ao trânsito vindo das mulheres, pelo contrário. Discutimos muitas questões sobre segurança pública na mobilidade ativa e nos ônibus para respeitar as mulheres enquanto pedestres, ciclistas e usuárias do transporte público. A segurança para as mulheres, nesses casos, deve ser inegociável”, diz Taciana, que complementa que o setor visa uma vigilância social e mais segurança para todas as pessoas, porque uma cidade segura para mulheres na mobilidade ativa é uma cidade segura para todos.


Por Marta Souza

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