Em cima de túnel, comunidade Pocotó volta ao radar da Prefeitura do Recife
Comunidade existe há quase 20 anos. Risco do túnel Augusto Lucena será reavaliado (Rafael Vieira/DP)
No último dia 30, a comunidade do Pocotó, que fica em construções irregulares e invasões, há quase 20 anos, acima e nos arredores do Túnel Augusto Lucena, em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, foi surpreendida com uma ação inesperada da Guarda Municipal da capital. Após apresentar notificação, os policiais derrubaram dois barracos e outro parcialmente. A população em protesto paralisou parte da Avenida Ernesto Paula Santos, e a movimentação terminou em conflito entre moradores e policiais. O receio é que ocorra o mesmo que houve em 2018, quando várias construções irregulares foram derrubadas pelo poder público, com despejos em sequência.
A visita recente aconteceu após vídeos repercutirem pelas redes sociais, com um aparente desequilíbrio no teto do túnel Augusto Lucena, onde moram quase 60 famílias. Por enquanto, os engenheiros da gestão municipal não viram problemas estruturais, mas o risco será reavaliado em breve pela Defesa Civil. Se o risco for considerado alto, a Prefeitura do Recife poderá realizar novas ações de derrubada de moradias irregulares na área.
“As enchentes no local são constantes, assim como as infiltrações no viaduto. No entanto, as casas que foram destruídas na última semana não estavam em cima do viaduto e não eram novas. Após a última enchente, os moradores estavam recuperando seus barracos quando o policiamento chegou e de forma truculenta derrubou os barracos”, contou Aline Maciel, advogada da associação dos moradores.
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Rosilânia Maria da Silva mora hoje de favor na casa da irmã (Rafael Vieira/DP) |
A moradora Rosilânia Maria da Silva, de 26 anos, foi uma das atingidas pela ação. “Estou grávida e tenho duas filhas, uma de dez e outra de cinco anos. Moro aqui faz mais de cinco anos e sofro sempre com as enchentes, mas desta vez perdi tudo o que tinha, fui morar com minha irmã”, reclamou. “Estamos cadastrados no Projeto Pró Morar mas até agora não sabemos como será a mudança dos moradores, nem se vamos receber auxílio moradia”, afirmou a líder comunitária Luciana Maria Barbosa, de 31 anos.
ATENTA
A Prefeitura do Recife, por meio da assessoria, disse estar atenta à situação social e estrutural envolvidas no túnel Augusto Lucena e planeja a retirada gradual das edificações irregulares localizadas em cima do viaduto “a fim de preservar vidas, eliminar o excesso de peso sob a estrutura e conservar toda a construção existente para preservar a mobilidade na Zona Sul”, respondeu, em nota, ao questionamento da reportagem.
“A desocupação é necessária tendo em vista os resultados apontados no laudo técnico, elaborado por um engenheiro calculista. O documento, contudo, não aponta risco iminente de desabamento, mas a necessidade de retirada das moradias irregulares para preservar a construção, bem como para fazer a plena recuperação da estrutura, medida periódica necessária em quaisquer obras de engenharia públicas ou privadas”, completou a nota.
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Advogada Aline Maciel espera solução digna para os moradores (Rafael Vieira/DP) |
A advogada da associação dos moradores concorda com o risco do viaduto, mas reivindica uma solução para a melhoria de vida da comunidade Pocotó. “Há realmente risco de nível 2 no viaduto. Entretanto, não temos ainda um laudo conclusivo. Sabemos que os moradores precisam sair e eles querem sair. Mas para haver a desocupação é preciso ter condições de moradia digna, auxílio moradia, indenização aos moradores que tiveram suas casas destruídas e que as pessoas cadastradas no Projeto Pró Morar sejam atendidas o mais rápido possível”, concluiu Aline Maciel.
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