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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

OS TEMPOS MUDARAM

CARNAVAL BREGA


A abertura do carnaval 2020 na terra do frevo, o Recife, tem como atração a musa do Brega: Priscila Senna. Silenciaram os clarins que pediam passagem para o frevo de forma imperativa.  Também não escuto o batuque dos maracatus. Nelson Ferreira, Capiba e Naná Vasconcelos devem estar reunidos no céu, confabulando sobre tal heresia.
Sinais dos tempos! Como bem canta a nova "rainha" do pedaço: "O mundo gira, o mundo é uma bola".
Na nova edição da revista Textos, o artigo da excelente escritora, Fátima Quintas, que tem como título - O Recife e a Memória - nas primeiras linhas nos alerta sobre o "espírito libertário" da Capital Pernambucana.
Reconheço que temos de acompanhar a nova ordem. "Dançar de acordo com a música", diriam os velhos conselheiros. Mas subtrair o espaço do frevo soa como uma agressão para quem acompanhou blocos de sujo; caiporas, ursos, e fez o passo, sem perder o compasso, nos salões dos clubes.
Na década de 70, para ser mais preciso, em 1975, cheguei à redação do Diário de Pernambuco, para concorrer a uma vaga na editoria de esportes, a época comandada por Adonias de Moura. Ao meu lado, outro candidato, José Adalberto Ribeiro, mas ele buscava espaço na editoria de política. Fomos aprovados.
Da sacada das janelas acompanhávamos tudo o que acontecia na Praça da Independência, que para o povão não era outra senão a Pracinha do Diário. Em tempo de carnaval a redação do DP fervia. De lá saímos para as edições primeiras do Baile dos Artistas capitaneadas por Valdir Coutinho. O presidente do Sindicato dos Jornalistas, Eliomar Teixeira, criou o bloco Língua Ferina que saia da redação e desfilava pelas ruas Nova e da Imperatriz.
Na sexta-feira, o prefeito do Recife repassava a "chave da cidade" para o Rei Momo num palanque montado na calçada do DIÁRIO. Depois ficávamos aguardando o desfile do Azulão. A época trabalhávamos no Sábado de Zé Pereira, fato que nos oportunizou testemunhar os primeiros desfiles do Galo da Madrugada.
Futebol?
A turma da bola também abria alas para o frevo passar. O excesso era um treino de mascarados no sábado. Depois que o calendário do futebol brasileiro inchou, temos jogos na sexta-feira, no sábado de Zé Pereira e na Quarta-feira de Cinzas. 
A folia também aumentou na mesma proporção. Afinal, desde o ano passado que temos prévias pelas ladeiras de Olinda, e no Recife os blocos se multiplicam. Este ano vamos ter folia até o primeiro dia de março.
As mudanças são imposições do tempo. O carnaval também teria que passar por transformações, mas algumas descaracterizações por conta de uma modernização são chocantes.
Confesso que, apesar de toda a minha paixão pelo futebol, em tempos de carnaval "eu quero entrar na folia".
Ah! Meu carnaval não é multicultural. É frevo.     

CLAUDEMIR GOMES

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