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segunda-feira, 2 de abril de 2018

NUVENS NEGRAS EM BRASÍLIA

As forças obscuras estão no palácio

Em 1961, Jânio Quadros disse ser perseguido por “forças terríveis”. Em 2018, Michel Temer se diz vítima de “forças obscuras”. A expressão está na nota que o Planalto divulgou na sexta-feira, depois da prisão dos amigos do presidente.
Jânio pensou que a renúncia lhe permitiria reassumir com plenos poderes. Deu tudo errado, e ele voou de Brasília para o ostracismo. Temer imaginou que a intervenção no Rio fabricaria uma candidatura competitiva. A “jogada de mestre” virou um problema, e agora o governo volta a ser encurralado pela polícia.
Seria uma injustiça histórica levar a comparação adiante. Jânio bebia além da conta, mas nunca deixou de entrar num restaurante com medo de ser xingado pelos clientes.
A defesa do Planalto aposta na teoria da conspiração. A nota fala em “métodos totalitários” e sustenta que existiria um complô para “destruir a reputação” de Temer. Enquanto a polícia recolhe provas, o governo insiste que não há “fatos reais a investigar”.
“Repetem o enredo de 2017, quando ofereceram os maiores benefícios aos irmãos Batista para criar falsa acusação que envolvesse o presidente”, diz o texto. Como os personagens mudaram, a Presidência fez uma queixa genérica das “autoridades”, sem nomeá-las.
A maior semelhança entre o escândalo da JBS e o atual é a presença de Temer como suspeito. Os irmãos Batista confessaram muitos crimes, mas não têm nada a ver com a roubalheira no Porto de Santos. O procurador Rodrigo Janot guardou as flechas e se mudou para a Colômbia. A Operação Skala é obra da doutora Raquel Dodge, nomeada pelo atual presidente.
A procuradora terá papel central na nova crise. Depois de frear as delações premiadas, ela pisou no acelerador com o inquérito dos portos. Ontem à noite, ensaiou outro recuo ao pedir a libertação dos amigos de Temer.
Com a passagem de José Yunes e do coronel Lima pelo xadrez, quase todos os homens do presidente passam a acumular temporadas pela cadeia. A PF já havia recolhido Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima, Henrique Eduardo Alves, Rodrigo Rocha Loures e Tadeu Filipelli. As prisões em série sugerem que as “forças obscuras” não atuam fora, e sim dentro do palácio.

Bernardo Mello Franco - O Globo

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