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domingo, 8 de abril de 2018

COM TEMER ACONTECE TUDO

Com Temer, renasceu a anarquia militar

A nota do general Villas Bôas expôs o pior legado da breve Presidência de Michel Temer

O juiz Sergio Moro mandou levar Lula à cadeia. Releia o que disse o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, na terça-feira:
“Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais.”
Essa frase é um retumbante truísmo. Ela pesa, e muito, pela ocasião: a véspera do julgamento do habeas corpus de Lula pelo Supremo Tribunal. Basta fazer um exercício: se o general dissesse a mesma coisa amanhã, o innuendo permitiria supor que estivesse falando da Operação Skala, que colocou na cadeia amigos de Michel Temer.
Falar por meio de elipses é um conhecido recurso da retórica de militares que se metem em política. Em 1955, depois de depor dois presidentes (Café Filho e Carlos Luz), o ministro-general Henrique Lott disse que pretendeu “garantir a volta aos quadros constitucionais vigentes”. Quem souber o que isso quer dizer, ganha um fim de semana em Caracas.
A nota do general Villas Bôas expôs o pior legado da breve Presidência de Michel Temer. Ele replantou a semente da anarquia militar, adormecida desde o fim do século passado.
Em 2015, no governo de Dilma Rousseff, o general Hamilton Mourão condenou “a maioria dos políticos de hoje” e pediu um “despertar para a luta patriótica”. Foi exonerado do comando das tropas do Sul por Villas Bôas e nada aconteceu. Em setembro passado o mesmo general fez uma conferência escalafobética e nada lhe aconteceu.
Meses depois, numa “jogada de mestre”, Temer militarizou a questão da Segurança do Rio, para conforto do governador Pezão e do PMDB do estado.
Nunca é demais repetir a classificação feita pelo presidente Castelo Branco, um general que falava claro: “Vivandeiras alvoroçadas, vêm aos bivaques bulir com os granadeiros e provocar extravagâncias do Poder Militar.”
Uma viagem a 1962, e uma aula de disciplina
Em 1962 o Brasil estava dividido. Um ano antes a indisciplina dos três ministros militares levara o país à beira de uma guerra civil, e João Goulart presidia um regime parlamentarista, dedicando-se a desmanchá-lo por meio de um plebiscito que restabeleceria o presidencialismo.
O Congresso remanchava, e em setembro o comandante das tropas do Sul, general Jair Dantas Ribeiro, colocou seus quartéis em regime de prontidão e enviou um telegrama ao ministro dizendo que “me encontro sem condições para assumir com êxito e segurança a responsabilidade do cumprimento de tais missões, se o povo se insurgir pela circunstância de o Congresso recusar o plebiscito”. No melhor estilo do “digo-mas-não-digo”, acrescentou: “A presente explanação não é uma ameaça, nem uma imposição, mas apenas uma advertência”.
No mesmo dia, o comandante da guarnição do Paraná mandou-lhe um telegrama: “Informo V. Ex.ª reina completa calma território esta Região Militar. Providenciada ordem prontidão.” Xeque.
Meses depois Jair Dantas foi nomeado ministro e foi à forra com o general do Paraná, mandando-o para o último canil do Exército, a diretoria da Reserva.
O general do Paraná chamava-se Ernesto Geisel, não assinava manifesto contra o governo (“indisciplina”) , nem a favor (“chefe não pode receber solidariedade de subordinado”).
No dia 31 de março de 1964 deu-se o levante contra Goulart. Jair era ministro e estava hospitalizado. No dia seguinte telefonou a Goulart, abandonando-o.
Geisel tornou-se chefe da Casa Militar do novo governo e, em 1974, assumiu a Presidência da República. Nunca assinou manifestos e restabeleceu o primado da Presidência da República sobre as Forças Armadas.

Elio Gaspari – O Globo

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