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terça-feira, 3 de setembro de 2019

O PRIMEIRO NÃO

Aos 27 anos, Neymar ouve não pela primeira vez na carreira

Neymar JrFoto: Franck Fife / AFP


O jogador de 27 anos fez o possível para deixar a França e voltar para o Barcelona. O Real Madrid também era uma alternativa. Pela primeira vez na carreira, Neymar ouviu um 'não'

Enquanto esperavam Neymar na sala de imprensa do estádio Parque dos Príncipes, em Paris, os jornalistas brasileiros brincavam com a estimativa de quanto tempo levaria para o atacante agitar o retorno para o futebol espanhol.

Dois anos foi a opinião comum. Era 4 de agosto de 2017, minutos antes de o brasileiro ser apresentado como reforço do PSG. Transação que ainda é a mais cara da história do futebol: 222 milhões de euros (R$ 1 bilhão em valores atuais).

Nessa, a imprensa acertou. O jogador de 27 anos fez o possível para deixar a França e voltar para o Barcelona. O Real Madrid também era uma alternativa. Pela primeira vez na carreira, Neymar ouviu um "não".


A janela de transferências no futebol francês terminou nesta segunda (2).

Quando quis sair do Santos, tinha o poder de barganha. Se esperasse mais um ano, a transferência seria de graça, o que colocava a pressão sobre os dirigentes. Ele já receberia 40 milhões de euros (R$ 184,3 milhões) de qualquer maneira. O clube brasileiro liberou um dos maiores jogadores da sua história por 17 milhões de euros (R$ 78,3 milhões) em maio de 2013. 

Quatro anos depois, o Barcelona não queria vendê-lo. Prevaleceu no fim foi a vontade de Neymar. Quando ele sinalizou desejar ir para o Paris Saint-Germain, a família real do Qatar, que no final da cadeia de comando é quem tem a propriedade do time, autorizou o depósito dos 222 milhões de euros que representavam a multa rescisória.

O brasileiro se apresentou atrasado para a pré-temporada na França e foi xingado pela torcida em jogo que não atuou –não esteve em nenhuma das quatro partidas do PSG na temporada. O clima ruim em Paris não levou ao roteiro desejado pelo atacante, que era migrar para o Barcelona. 

Pelo menos até janeiro, quando reabre a janela de transferências internacionais, o brasileiro terá de permanecer na liga francesa. O mais provável é que fique mais um ano.

Ao chegar em 2017, ele repetiu o mesmo discurso de jogadores contratados em transações milionárias. A transferência não era pelo dinheiro mas sim, pelo projeto. Neymar assinou contrato por salário de 36,8 milhões de euros por ano (R$ 169,5 milhões).

"Você já está querendo que eu saia?", brincou o atacante, interrompendo uma pergunta para o presidente do PSG, Nasser Al Khelaifi, durante sua apresentação no Parque dos Príncipes.

A questão era premonitória sobre o problema que impediria, no final das contas, sua transferência para o Barcelona dois anos depois: o acordo assinado pelo brasileiro tinha multa rescisória? Al Khelaifi desconversou e falou sobre os planos para o clube. O novo camisa 10 seria o astro principal.

"Não são permitidas multas rescisórias em contratos pelas normas do futebol francês", respondeu, horas mais tarde, o advogado Marcos Motta, especializado em direito esportivo e que auxiliou Neymar a fechar a transação.

Se não há valor estipulado para rescindir, ele só sai de Paris antes do final do vínculo, em julho de 2022, se o presidente assinar sua transferência.

Não ajudou a Neymar para prevalecer sua vontade o fato de dirigentes de PSG e Barcelona não serem melhores amigos. O clube francês até hoje tem o trauma da eliminação nas oitavas de final da Champions League de 2017 quando a equipe espanhola venceu por 6 a 1, reverteu desvantagem de quatro gols do primeiro jogo, e se classificou. Foi a maior atuação do brasileiro no Camp Nou.

Enquanto se recuperava de lesão no tornozelo, neste ano, o atacante citou esta partida como sua melhor lembrança em vestiários de futebol. 

O PSG ainda contesta o resultado porque o Barcelona teve dois pênaltis duvidosos marcados a seu favor. O sexto e decisivo gol foi anotado em impedimento. O time apresentou um dossiê à Uefa contra a arbitragem.

Os diretores qatarinos também se irritaram com o interesse catalão no volante italiano Verratti.

A preferência do PSG era negociar Neymar com o Real Madrid. Aceitavam até fazer negociação semelhante a de Mbappé, 20, em 2017 quando ele trocou Mônaco por Paris. Seria um empréstimo com a obrigação de comprar após um ano. Mas as conversas não avançaram.

Na hora de fazer o que não queria (negociar com os catalães), Al Khelaifi tinha um poder que Santos e Barcelona não possuíram no passado: impor suas condições. A vontade de Neymar começou a ruir quando o atacante Ousmane Dembélé, 22, deixou bem claro que não aceitaria entrar como contrapeso na negociação e jogar pelo PSG, mesmo que por empréstimo. Era o nome preferido pelo presidente.

O clube também queria o meia croata Ivan Rakitic, 31, e o zagueiro Jean-Clair Todibo, 19, em definitivo, além de 130 milhões de euros à vista (R$ 599 milhões).

A chegada de Leonardo como diretor esportivo não ajudou no relacionamento. Segundo o Uol, Neymar ignora o dirigente quando o encontra no clube por avaliar que ele atrapalhou a transferência para o Barcelona. 

Leonardo criticou indiretamente o jogador por não saber falar francês, algo que foi usado pela torcida do PSG que reclama do seu comportamento e o xingou em espanhol durante as partidas da equipe.

Em duas temporadas no Paris Saint-Germain, Neymar ajudou o time a conquistar dois campeonatos nacionais, uma Copa da França e uma Copa da Liga. Mas não foi para isso que o clube investiu tanto dinheiro. Ele custou R$ 1 bilhão para fazer a equipe ser campeã europeia. Em vez disso, aconteceram duas quedas nas oitavas de final. O brasileiro não estava em campo na partida decisiva em ambas.

No ano passado, se recuperando de lesão, ainda causou polêmica ao confrontar a arbitragem no Parque dos Príncipes e depois criticá-la nas redes sociais após derrota para o Manchester United (ING).

A transferência serviu muito até o momento para Neymar na questão financeira. Na esportiva, ele não atingiu aquele que era seu objetivo natural ao deixar o Santos, em 2013. Ser o melhor jogador do mundo.



Folhapress

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