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domingo, 19 de março de 2023

RIO GRANDE DO NORTE

Assassinato em 2013 rachou facção e originou quadrilha que lidera os ataques



Na madrugada de 21 de fevereiro de 2013, presos da maior facção do tráfico de São Paulo, o PCC, invadiram uma cela do pavilhão 2 da Penitenciária de Alcaçuz, a maior do Rio Grande do Norte, e mataram a facadas Lindemberg de Melo e Souza, o Berg Neguinho. O assassinato foi decretado pela cúpula da facção no estado. Quatro anos antes, Berg, que era integrante da quadrilha, havia matado um comparsa com quem se desentendeu durante uma tentativa de fuga — e, pelas regras do bando, “sangue se paga com sangue”.

O crime mudou a história do crime organizado potiguar. Berg era respeitado na facção paulista, que até então era hegemônica no estado. Muitos comparsas não aceitaram a decisão da cúpula e romperam com a quadrilha. Nas semanas seguintes, os dissidentes se uniram para fundar, dentro de Alcaçuz, o Sindicato do Crime — facção por trás da onda de violência que aterrorizou o estado na semana passada. As informações são do O Globo.

Logo depois do homicídio de Berg, a facção saiu dos presídios e se espalhou pelas periferias da Grande Natal e outras cidades. O grupo aproveitou-se da insatisfação dos integrantes potiguares do PCC, que tinham que se submeter ao que era decidido em São Paulo.

— Nas cadeias, os criminosos passaram a dizer que não aceitariam ordens de outro estado, que quem mandava no Rio Grande do Norte era a facção local — explica Juliana Melo, antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

A nova facção, no entanto, foi constituída nos mesmos moldes da quadrilha paulista. Um estatuto com 16 regras, datado de 27 de março de 2013, pregava que novos filiados deveriam ser batizados e todos os integrantes precisavam contribuir mensalmente para a “caixinha”. Detentos pagam R$ 100 e o valor dobra para quem está solto. Segundo o documento, o prazo para pagamento é de “20 dias mais 10”. Passado o prazo, “a final resolve”. Ou seja, a cúpula, formada pelos fundadores, daria a palavra final.

Uma conversa interceptada pela polícia num grupo de WhatsApp da facção mostra como funciona uma deliberação da “final”. “Mais um vacilão”, escreveu, em agosto de 2014, um dos integrantes da cúpula, sobre um integrante flagrado roubando passageiros de um ônibus. “É parceiro, nós temos que falar pros boy novo que nós conhecemos para não tá roubando ônibus”, respondeu outro. “É passar a visão nas bocas”, completou José Kemps Pereira de Araújo, o Alicate, fundador da facção apontado como responsável pelos ataques da semana passada. A partir daí, roubos a ônibus passaram a não ser mais tolerados.

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