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quinta-feira, 9 de novembro de 2017

ELEIÇÕES 2018

Bolsonaro vira normal, Huck sobe


HÁ UMA tentativa de normalizar Jair Bolsonaro, que não faz muito tempo era um estranho até no ninho dos primitivismos da direita brasileira. Tornou-se comum ouvir de gente mais jovem e tosca da finança que é melhor ver o ex-militar no Planalto do que Lula, o que parece uma opinião óbvia, no caso, mas que indica o tamanho do problema (contra Lula, vale qualquer coisa e, ao mesmo tempo, não há ainda outra coisa que se possa contrapor ao petista, de forma civilizada e competitiva).
Além do mais, trata-se de converter o espantalho em uma marionete liberal e de trocar sua palha suja de décadas de discursos odientos e limpa de ideias.
Em março, abril, Luciano Huck era um rumor de festas e jantares de ricos. Em meados do ano, tornou-se um balão de ensaio, que subiu quando a bola de João Doria murchou um pouco. Huck e seus adeptos agora fazem o plano de negócios da candidatura: pesquisas de prospecção de viabilidade, momento de lançar o candidato, sob qual rótulo partidário etc.
Huck e Bolsonaro têm em comum apenas a possibilidade de virem a ser o anti-Lula, no entanto, é ocioso dizer, é um insulto comparar o apresentador de TV ao oficial subalterno do Exército.
Na elite política e econômica, Bolsonaro é resultado de selvageria e oportunismo políticos. Huck é de fato uma tentativa de recriar a política por fora do mundo da política, por mais artificial que por ora, pelo menos, pareça esse projeto.
O plano Huck envolve gente que considera ainda quixotescos projetos como o Partido Novo, da direita liberal, e que desistiu ou está à beira de desistir do sistema político que está aí, inclusive do partido que foi o representante normal da centro-direita no último quarto de século, o PSDB.
Gente que tanto apoia "start ups" políticas quanto quer resultados imediatos, com uma candidatura logo viável.
Não sabem dizer, no entanto, como vão converter Huck em um líder político de fato, quando não acabar por sugerir que planejam apenas criar uma espécie de rainha da Inglaterra do presidencialismo.
Não sabem dizer como é possível levar a "renovação" ao Planalto, à Presidência da República, com um Congresso que em 2019 não será muito diferente dessa turba degradada que temos hoje, uma massa de baixo clero sem bispos.
Para piorar, o problema não é apenas o Congresso, mas também o Judiciário e toda a relação entre Poderes.
Como também é o caso dos demais candidatos prováveis do "campo das reformas", não sabem dizer de resto qual vai ser o programa político. O econômico, no essencial, parece óbvio. Mas o que se vai dizer a um eleitorado que, por enquanto, parece refratário a reformas?
Pode ser que a imagem das mudanças liberais tenha sido contaminada e empesteada por Michel Temer e cia., o seu governo repulsivo para quase o país inteiro.
É mais provável que o eleitorado queira saber de um plano que combine um plano econômico qualquer com soluções rápidas que, por ora, nenhum programa liberal sabe dar para a desgraça na saúde ou para a infraestrutura em ruínas, por exemplo.
Uma alternativa a um plano de recuperação econômica que até agora não repartiu a conta do prejuízo, por ora paga apenas com o couro do povo. 

Vinicius Torres Freire - Folha de S.Paulo

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