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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

SINCRETISMO

Noite dos Tambores Silenciosos celebra a ancestralidade negra

Noite dos Tambores Silenciosos - Foto: Arthur de Souza/Folha de Pernambuco


Festa, que vem atraindo cada vez mais turistas, será nesta segunda-feira (20), no Pátio do Terço



Esta segunda-feira de Carnaval (20) é a data de um evento no Recife que traduz com perfeição o sincretismo entre fé e festa que o Carnaval da cidade evoca e celebra: a Noite dos Tambores Silenciosos. Trata-se do encontro de23 nações de maracatu de baque virado, no Pátio do Terço, no Bairro de São José, região central da cidade, a partir das 20h, para uma celebração que mistura os batuques profanos aos toques sagrados da religião de matriz africana.

A festa, que celebra a ancestralidade negra, é uma das manifestações afro-brasileiras mais aguardadas do reinado de Momo. O som forte dos tambores envolve todos numa atmosfera de magia, à medida em que as nações de maracatu de baque virado chegam em cortejo.

O auge da celebração é à meia-noite, quando todas as luzes do Pátio do Terço são apagadas, o silêncio toma conta do local e as nações de maracatu tocam seus tambores por aproximadamente meia hora.

Tochas são acesas e levadas até a porta da Igreja. Uma voz entoa versos de louvor à rainha dos negros, Nossa Senhora do Rosário. As rainhas de cada um dos grupos levam seus estandartes para frente.

babalorixá responsável pelo ritual alinha os batuques e rege um coro de mães-de-santo que rezam com ele, que faz uma veneração aos negros e negras vítimas da luta contra a escravidão, abençoa os membros dos maracatus, o público presente à cerimônia e termina o culto. 

Os cânticos são também para Iansã, orixá que toma conta do portal entre o mundo dos vivos e o dos mortos, são acompanhados por palmas da plateia.ânticos a Iansã, orixá que toma conta do portal entre o mundo dos vivos e o dos mortos, são acompanhados por palmas da plateia

O Pátio do Terço, que abriga a celebração, carrega a história dos antepassados negros. Lá funcionava um dos primeiros terreiros nagô de candomblé em Pernambuco. O lugar também era utilizado como espaço para venda de escravos, ou mesmo para enterrá-los após a morte. E muitos morreram lutando, amarrados, açoitados brutalmente pela mão dos feitores.

Badia
A festa foi idealizada ainda na década de 1960  por Maria de Lourdes Silva, a Badia. Neta de escravos, ela foi moradora do Pátio do Terço até o fim da vida. Partiu dela a ideia de lembrar os negros escravizados - muitos que passaram por aquele lugar na rota do comércio escravagista -, que morreram sem conhecer o Carnaval. 

Com o auxílio do jornalista Paulo Viana e o advogado Edvaldo Ramos, a ideia de Badia foi concretizada. No início, o evento era encenado pelo grupo de teatro Equipe, no chão, à porta da Igreja do Terço, e não possui o caráter religioso que passou a ter. Com o crescimento da festa e o potencial turístico que traz, foi passando por alterações ao longo dos anos.

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