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quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

100 ANOS JOÃO CABRAL DE MELO NETO

O poeta da precisão e abundância

100 anos João Cabral de Melo NetoFoto: Renan Cepeda/Folhapress



Se vivo estivesse, poeta pernambucano completaria, nesta quinta (9), cem anos

Uma vida muito mais espessa
João Cabral de Melo Neto nasceu no Recife, no dia 9 de janeiro de 1920, embora sua certidão de nascimento erradamente registre a data de 6 de janeiro. Nesta quinta-feira (9), portanto, se vivo estivesse, completaria 100 anos. Era filho de Luís Antonio Cabral de Mello e de Carmen Carneiro Leão, e, depois de adulto, resolveu grafar o "Melo" de forma mais simples.

Considerado um dos mais importantes poetas de língua portuguesa, João pertencia a uma família com muitos nomes ilustres: era primo, por parte de mãe, do sociólogo Gilberto Freyre (cuja mãe, Francisca, era irmã de Maria Olindina, avó de João) e do historiador José Antônio Gonsalves de Mello (filho de Albertina, irmã de Carmen). Por parte de pai, João também era aparentado do poeta Manuel Bandeira, já que as bisavós de ambos, Ângela Felícia e Cândida Esméria de Lins Albuquerque, eram irmãs.

João adorava genealogia, conforme conta sua filha Inez, e não foi o único famoso na prole de Luís e Carmen. Seu irmão mais novo, Evaldo, o caçula e único remanescente vivo dos cinco filhos do casal, é um historiador destacado, que, assim como João, tornou-se membro da Academia Brasileira de Letras - salvo engano, o único caso em que dois irmãos obtiveram esse destaque.

João nasceu na casa do avô, o advogado e professor de Direito Virgínio Marques Carneiro Leão, que, por questões de higiene e segurança, exigia que o parto dos netos acontecesse no Recife e não no engenho onde a família morava. Mas, em seguida, foi levado para o Engenho Poço, em São Lourenço da Mata; e, depois, para os engenhos Pacoval e Dois Irmãos, em Moreno. Neles, passou a infância e, após aprender a ler, gostava de declamar folhetos de literatura de cordel para os "cassacos", trabalhadores do corte da cana.

Por questões de segurança, quando ele tinha dez anos, durante a Revolução de 1930, a família mudou-se para o Recife, onde o clã Cabral de Mello habitava o Largo do Parnamirim, na Zona Norte. Passou, então, a conviver com uma porção de primos mais ou menos da mesma idade, que, entre outras brincadeiras, dedicavam-se a caçar passarinhos e pescar camarão-pitu no rio Capibaribe, que passava no quintal das casas.

Entre eles, estavam Lula, que hoje nomeia a praça em torno da qual todos moravam, e Fernando, pai do empresário Fábio Cabral de Mello. "Meu pai era de 1917, mais velho pouca coisa que João", pontua Fábio. "Eles conviveram muito, e papai foi citado de forma indireta nas poesias dele que falam da infância". Fernando, aliás, foi um dos poucos da família que guardou um exemplar dos desenhos que João fazia para presentear parentes e amigos.


Leitor voraz, João alimentava o sonho de ser jornalista, mas foi rejeitado por um periódico local quando tinha 16 anos. Coincidência ou não, após o fato, ele passou a ser acometido por dores fortíssimas no lado esquerdo da cabeça, que o acompanharam vida afora, definindo grande parte de sua vida e chegando, inclusive, a impedi-lo de dormir uma noite inteira de sono.

Ainda jovem, João passou seis meses internado num sanatório, tentando em vão investigar se as dores seriam psicossomáticas. Chegou a tomar dez comprimidos de aspirina por dia, e homenageou o remédio no poema "Num monumento à aspirina", em que descreve a pílula como sendo "o mais prático dos sóis". Cinco décadas após tanto abuso de ácido acetilsalicílico, ele desenvolveu sérias úlceras gastroesofágicas. Operado em 1984, as dores de cabeça inexplicavelmente sumiram. Mas pouco tempo depois, João descobriu sofrer de uma doença degenerativa que o levou à cegueira.


FolhaPE

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